Garth Ennis e Steve Dillon voltam com tudo neste sexto volume de Preacher, uma das HQs mais violentas, bizarras e profanas lançadas na década de 90 pelo selo adulto Vertigo, da DC Comics. Nela acompanhamos as viagens do reverendo Jesse Custer - que divide o corpo com a entidade meio anjo, meio demônio chamada Gênesis, que lhe dá o poder da Palavra de Deus -, através do interior dos EUA, na companhia de uma matadora de aluguel fracassada e um vampiro irlandês beberrão, enquanto é perseguido por uma organização ultrassecreta que deseja provocar o Armagedom e estabelecer a Nova Ordem Mundial. Após um quarto volume constituído basicamente de histórias de origem e fillers, e um quinto com um enredo bem fraquinho, dessa vez temos uma história realmente com a cara de Preacher, e isto quer dizer que ela esbanja violência, nudez, palavrões e personagens bizarros em situações mais bizarras ainda.
Este encadernado começa com o especial Guerra Solitária, história de origem de ninguém menos do que o maior adversário de Jesse Custer: Herr Starr. Garth Ennis finalmente descortina o passado do vilão, narrando sua trajetória desde quando ele era um membro descontente do esquadrão de elite antiterrorismo alemão GSG 9, até se tornar o segundo em comando na hierarquia do Graal. Esta história nos ajuda a entender a motivação por trás dos atos de Starr, identificando precisamente o momento em que ele percebeu que precisava fazer alguma coisa para mudar o rumo que a humanidade estava seguindo. O problema é que, aparentemente, ele é o único capaz de levar a cabo tal missão, já que até mesmo no Graal ele enxerga um enorme potencial desperdiçado numa fé cega e ignorante, motivo pelo qual ele começa sua campanha soliária (que dá nome ao especial) para usurpar o lugar do Grande Pai. De quebra, também começamos a entender o porquê dele exibir tendências sexuais tão bizarras, o que o tornam um vilão incomum. Se por um lado ele parece tão ameaçador, quando o vemos entre 4 paredes com uma mulher é impossível levá-lo a sério. Este especial conta com a arte de Peter Snejbjerg, o qual consegue manter a qualidade estabelecida por Dillon para a obra.
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A Origem de Herr Star |
Após este especial a história volta ao ponto em que o quinto volume terminou: Jesse indo encontrar um indígena no Monument Valley, que lhe fornece uma droga (peiote) capaz de fazer com que ele acesse as memórias de Gênesis e possa descobrir enfim o paradeiro de Deus. A história começa meio arrastada, com muita falação, principalmente entre o casal Jesse e Tulipa, que sempre que tem a oportunidade traz de volta a velha mágoa dele tê-la deixado para trás na França, e entre Tulipa e Cassidy, que no volume anterior declarara seu amor pela moça, plantando a semente da discórdia que causaria tantos problemas no futuro. Ao mesmo tempo, outras peças são movimentadas no tabuleiro para ocuparem suas devidas posições: Herr Star, que aqui demonstra até onde vai a influência do Graal dentro do governo dos EUA, e o Santo dos Assassinos, que vem em busca de respostas para seu passado.
Quando todas as peças finalmente estão em seus lugares ocorre a tal Guerra ao Sol que dá nome ao encadernado, e que guerra é essa, meu camarada! Mais uma vez Steve Dillon nos presenteia com um verdadeiro espetáculo visual, exibindo uma arte em perfeita harmonia com o roteiro mirabolante e espalhafatoso de Garth Ennis. Basicamente esta batalha possui todos os ingredientes da luta vista em Orgulho Americano: o Graal tentando capturar Jesse com todos os meios necessários, o Santo Alargando chumbo nos soldadecos, e o grupo de Jesse no fogo cruzado; a única diferença é que a batalha acontece em campo aberto, ao invés do castelo de Massada. Até aí nenhuma novidade, embora um pouco de ação, tiros e tripas esvoaçando não façam mal a ninguém; mas desta vez há uma nova peça no tabuleiro: Tulipa. E a moça não deixa a desejar ao esbanjar seus incríveis talentos como exímia atiradora, e mais uma vez a vida de Jesse depende da pontaria infalível do seu grande amor.
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Tulipa "Largando o Aço" nos Soldados do Graal |
Ao final do conflito ocorre uma grande reviravolta no roteiro, e mais uma vez Garth Ennis prova que, por mais absurda seja a situação que ele coloque seus personagens, ela sempre pode piorar mais. Starr, que já havia perdido uma orelha e ganhado uma horrível cicatriz na cabeça, agora tem que lidar com a perda de mais uma parte de seu corpo, e da maneira mais grotesca. Tal perda, no entanto, só serve para alimentar ainda mais seu ódio por Jesse.
Quanto ao pastor, o final deste encadernado marca o cisma que finalmente põe um fim à divertida parceria entre Jesse e Cassidy, quando o vampiro finalmente mostra as suas presas (perdão pelo trocadilho) e revela o quão sádico e egoísta ele pode ser. Mas se Jesse perde um amigo, logo após ele ganha um mais fiel, um de quatro patas, que faz sua introdução na última edição. Além de tudo isso, Garth Ennis ainda tem tempo para desenvolver o arco do Cara de Cu, que começa a descobrir o preço da fama.
Guerra ao Sol aproxima a missão de Jesse ainda mais de seu final épico, mas Garth Ennis ainda tem algumas histórias para contar antes de aposentar o irreverente pastor. A pergunta é: por tudo que Jesse tem passado até então, será que essa busca ainda valerá a pena? Não percamos os próximos desenvolvimentos! Assim como os demais volumes, esta HQ foi publicada pela Panini Books, em capa dura e papel couchê.
Boa diversão!
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Capa de Preacher: Guerra ao Sol, por Glenn Fabry |