terça-feira, 28 de março de 2017

RESENHA | Mulher Maravilha: Deuses e Mortais



É praticamente impossível falar da Mulher Maravilha unicamente no contexto das histórias em quadrinhos, quando ela é muito mais do que isso: Diana Prince é simplesmente a primeira e maior super heroína de todos os tempos; ela é um ícone cultural, um símbolo do movimento feminista, inspiração para todas as mulheres do mundo que desejam ser livres, autênticas e independentes. Ela foi criada em 1941 pelo psicólogo William Moulton Marston, famoso pela invenção do polígrafo - a versão real do Laço da Verdade -, como uma alternativa aos heróis masculinos que predominavam nos quadrinhos. Até então, as personagens femininas dessas histórias não passavam de mocinhas ingênuas que precisavam ser resgatadas ou preocupadas matronas responsáveis por costurar os uniformes dos filhos heróis. Com o surgimento de uma super heroína capaz de lutar em pé de igualdade com qualquer personagem masculino, Marston acreditava mandar uma mensagem para todas as meninas dos EUA de que elas não eram inferiores aos homens, de que elas eram capazes de conquistar os direitos que lhes eram negados, como votar, escolher qual carreira seguir, ou ocupar cargos de liderança em grandes companhias.

Ao lado do Superman e Batman, a Mulher Maravilha constitui um dos três pilares principais da DC Comics. Sua revista foi publicada ininterruptamente desde a década de 40 até 1887, quando sobreveio o fatídico reboot dos títulos da editora, sob o pomposo título Crise nas Infinitas Terras. Com a Crise todos os diversos universos paralelos, com suas diversas linhas temporais e versões alternativas dos heróis, foram eliminados da cronologia, e roteiristas de renome foram convocados para reformular os principais heróis da editora. Frank Miller criou o aclamado Ano Um do Batman, enquanto John Byrne revitalizava o mito do Superman em O Homem de Aço. Coube a George Pérez assumir o legado da Mulher Maravilha e criar uma história de origem completamente nova e atualizada para a Princesa das Amazonas, que havia morrido pelas mãos do Antimonitor nas últimas páginas da Crise. O resultado, o arco de histórias intitulado Deuses e Mortais (Mulher Maravilha v2, 1-7), foi uma das fases mais aclamadas da Mulher Maravilha, e que até hoje serve de base e inspiração para todos os escritores que passam pela revista solo da Princesa Amazona.

O Nascimento da Mulher Maravilha

George Pérez manteve os elementos principais da história de Diana, os quais remontam até sua crianção por W. M. Marston: a Ilha Paraíso, as amazonas, o piloto Steve Trevor, o torneio para decidir quem o levaria de volta ao "mundo do patriarcado", o laço da verdade. Outros aspectos sofreram alterações, como a Mulher Maravilha ser capaz de voar, o que tornou dispensável o icônico Avião Invisível. A Mitologia Grega consiste em uma das principais inspirações de Pérez para sua visão da amazona. Os deuses do Olimpo não apenas existem, mas interferem nas vidas dos personagens, seja para o bem (concedendo os poderes da Mulher Maravilha) ou para o mal (fomentando o ódio e a violência nas mentes dos líderes militares do planeta).

O apelo feminista da personagem, que é o principal legado de W. M. Marston, não é deixado de lado por Pérez, que, em plena década de 80, quando a expressão "empoderamento feminino" ainda não era utilizada, constrói um enredo repleto de personagens femininas fortes, como a Drª. Julia Kapatelis e a simpática e gorducha Etta Candy, e recheada de simbolismos, como a ideia de as amazonas sempre portarem seus braceletes como lembrança do período em que foram escravas dos homens. O próprio vilão escolhido para esta saga, Ares, o Deus da Guerra da Mitologia Grega, encarna características predominantemente masculinas - dominação pela força, ódio e violência (o que não quer dizer que todos os homens sejam assim) - que contrastam com o clamor por justiça, o amor e o carinho tão particulares às mulheres (o que não quer dizer que todas as mulheres sejam assim).

Ares, o Deus da Guerra

O roteiro de Deuses e Mortais é simples e eficiente, e a arte refinada e repleta de detalhes de George Perez é espetacular. Esta é sem dúvida a origem definitiva da Mulher Maravilha, e olha que eu conheço pelo menos mais três por aí (Terra Um, Novos 52 e Rebirth), mas todas elas são apenas releituras atualizadas de Deuses e Mortais. Com o filme solo da Mulher Maravilha estreando em junho deste ano, esta HQ é uma ótima pedida para quem quer conhecer mais a história da Princesa das Amazonas nos quadrinhos.

Mulher Maravilha: Deuses e Mortais está sendo publicado pela Panini Comics na série Lendas do Universo DC: Mulher Maravilha Vol. 1, com capa cartão e papel offset; mas quem deseja ter este material em edição de luxo também pode aguardar um pouco mais, pois ele faz parte da coleção de Graphic Novels DC da Eaglemoss, se eu não me engano na edição 38. Boa leitura!


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