quarta-feira, 1 de março de 2017

[RESENHA] John Constantine, Hellblazer Origens - Volume 7: O Coração do Menino Morto


Como tudo que é bom um dia acaba, assim foi com a passagem do roteirista britânico Jamie Delano pela revista solo do mago mais cínico dos quadrinhos, John Constantine. Após 37 edições mensais e uma anual, chegou o momento dele ceder a cadeira para o irlandês Garth Ennis, responsável por uma das fases mais aclamadas do título. Após décadas de espera angustiante, os fãs brasileiros finalmente puderam ter em sua coleção o arco final de histórias escritas por Delano, em um encadernado em capa cartão e papel pisa brite (a nova publicação, que deverá ser lançada este ano, virá com papel LWC) lançado pela Panini Comics em 2014.

Delano conclui com chave de ouro a última saga de Hellblazer de sua autoria, e, assim como no caso de Grant Morrison em Homem Animal, com total liberdade criativa para contar a história que ele queria. Isso com certeza fez com que a qualidade do roteiro subisse a um nível bem superior ao das sagas anteriores, embora a qualidade da arte em alguns momentos prejudique um pouco a qualidade do produto final, mas deixarei para falar disso mais adiante.

Delano usa e abusa de simbolismos, artifícios metalinguísticos e referências ao ocultismo moderno, tendo como principal influência o polêmico mago e ocultista do século XIX, Aleister Crowley. Seguindo o caminho do volume anterior, o autor continua se afastando da temática sobrenatural e do horror para explorar o psicológico de John Constantine, buscando em eventos de seu passado a explicação para sua vida ser tão estranha e conturbada. No início deste volume vemos um Constantine mais amargurado, melancólico e autodestrutivo do que nunca, e motivos não faltam: desde sua estreia nas páginas do Monstro do Pântano, o anti-herói já sacrificou diversos amigos em prol de sua guerra santa contra o sobrenatural, enfrentou demônios e sociedades secretas, e até mesmo um serial killer, que o obrigou a tomar medidas extremas até mesmo para alguém como ele. Mas, com a ajuda de Marj, Mercury e a xamã Zed - que novamente cruzam o caminho do mago -, ele irá descobrir que a causa de seu tormento possui raízes muito mais profundas, remontando a um crime que ele cometeu quando ainda estava no útero da mãe!

Constantine Encara seu Destino

A cereja do bolo fica por conta da edição nº40, a qual nos apresenta uma espécie de realidade alternativa, onde um Constantine que tomou decisões totalmente diferentes na vida se tornou um poderoso e respeitado mago. O final que Delano cria para esta história é perfeito, justamente porque ele poderia ser considerado um final definitivo para as aventuras de Constantine, se a DC Comics assim o quisesse, e ao mesmo tempo deixa o destino do mago em aberto para os próximos roteiristas. Esta edição foi ilustrada por Dave McKean, artista responsável pelas primeiras capas de Hellblazer e The Sandman, além da aclamada Graphic Novel Batman: Asilo Arkham. A arte surreal de McKean não é o que se pode considerar "convencional", e geralmente costuma dividir opiniões: enquanto uns amam de paixão e defendem ferozmente seu estilo como uma forma de arte mais complexa e abstrata, outros simplesmente a detestam. Quanto à minha opinião, confesso que não sou muito fã do cara, embora, neste caso, a arte de McKean acabe sendo a melhor do encadernado, em comparação com a arte de Sean Philips, a qual está bem aquém daquilo que ela viria a se tornar futuramente; e com Steve Pugh, com sua arte suja e desleixada.

Para finalizar, este encadernado conta ainda com um interlúdio de duas edições na qual Delano faz críticas aos maus tratos aos animais (assunto que ele iria abordar mais a fundo em sua passagem pelo Homem Animal), um conto extraído de Hellblazer Secret Files e outras duas histórias isoladas que ele escreveu anos depois de sua saída - Hellblazer 84 e 250 -, sendo a primeira uma história absurda sobre a mãe do taxista Chas e um demônio em forma de macaco travesti!

Se você é fã de Constantine, não perca esta excelente oportunidade de ter em mãos não apenas este encadernado, mas todos os da fase Origens, pois é a primeira vez que este material é relançado em ordem cronológica, não apenas aqui no Brasil, mas também nos EUA. A fase de Jamie Delano, apesar de seus altos e baixos, foi a que estabeleceu os principais elementos da mitologia do anti-herói - os acontecimentos de Newcastle, a apresentação do melhor amigo de Constantine, o taxista "Chas" (inclusive este personagem foi uma homenagem de Delano à sua antiga profissão!) e da sobrinha de aquela m3r%@ de filme estrelado por Keanu Reeves e a série água com açúcar da NBC.

Boa leitura, e até Hellblazer Infernal!

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