domingo, 21 de maio de 2017

ENTENDA MELHOR | Cronologia DC Comics

Da Era de Ouro ao Rebirth, ajudamos você a entender os principais eventos que afetaram as publicações da DC Comics ao longo dos anos.


Action Comics #1 e Detective Comics #27 

A origem da DC Comics remonta aos anos 30, quando ela ainda se chamava National Allied Publications, empresa que mais tarde viria a se fundir com a Detective Comics Inc. para formar a National Comics. Em 1938, na revista Action Comics #1, surgia o primeiro grande ícone desta editora, inaugurando o período que viria a ser conhecido mais tarde como a Era de Ouro dos Quadrinhos: o Superman. No ano seguinte foi a vez do Batman fazer a sua estreia nas páginas de Detective Comics #27, aproveitando o sucesso do Homem de Aço. A década seguinte viu uma explosão de super heróis nas páginas dos quadrinhos americanos: em 1940 surgiram Lanterna Verde e o Flash -, ambos em suas versões clássicas, como Alan Scott e Jay Garrick (aquele mesmo com um capacete de alumínio com asas nas laterais) -, e no próximo a Mulher Maravilha, primeira heroína dos quadrinhos, e o Aquaman. Juntamente com outros heróis que faziam sucesso na época, eles formaram o primeiro supergrupo da história: a Sociedade da Justiça da América, inspiração para diversas outras equipes de heróis que surgiriam no futuro, como a Liga da Justiça e os Vingadores.

O momento histórico pelo qual passavam os EUA, principalmente a 2ª Guerra Mundial, tiveram grande influência nas histórias dessa época. Verdadeiros símbolos do "american way of life", era comum ver super heróis no fronte enfrentando soldados nazistas ou japoneses. Com o fim da guerra, contudo, sua popularidade caiu vertiginosamente, e eles perderam espaço nos quadrinhos para romances e westerns. Felizmente, na década de 60 os super heróis voltaram a fazer sucesso, embora sob o jugo do infame Comics Code Autorithy, uma regulamentação imposta pelo governo americano que impunha censura no conteúdo dos quadrinhos. Nesta época, a DC aproveitou para reformular totalmente alguns de seus personagens: o Flash agora era Barry Allen, um policial forense que ganhou supervelocidade após ser atingido por um raio em seu laboratório; o Lanterna Verde deixou de ter poderes místicos para se tornar membro de uma força policial interplanetária; e no lugar da JSA surgiu a Liga da Justiça, que nada mais era do que uma versão atualizada da antiga Sociedade. Apesar de outros heróis terem se juntado à Liga mais tarde, esta primeira formação é considerada a formação definitiva da equipe, constituída pelos sete pilares fundamentais da editora: Superman, Batman, Mulher Maravilha, Flash, Lanterna Verde, Aquaman e Caçador de Marte. Esta fase ficou conhecida como a Era de Prata dos Quadrinhos.

Embora essas mudanças tenham agradado os leitores, muitos fãs ainda sentiam saudades dos antigos heróis da Era de Ouro, e se perguntavam o que teria acontecido com eles. A explicação proposta pelos editores resultou em um dos conceitos que se tornariam uma das pedras fundamentais das grandes sagas da DC Comics: a questão dos múltiplos universos. Nesta nova concepção, os heróis da Era de Ouro na verdade viviam em um universo alternativo, em uma Terra paralela apelidada de Terra-2. Foi na clássica Flash #123, de 1961, intitulada "Flash de Dois Mundos", que o segundo Flash, Barry Allen, encontrou Jay Garrick, marcando o primeiro de muitos encontros entre indivíduos dos dois universos. Além disso, foi no inédito encontro entre a Liga da Justiça e a JSA que a palavra "Crise" foi utilizada pela primeira vez para nomear um grande evento da editora. Mas as coisas não pararam por aí. Outros universos foram sendo adicionados ao recém formado "Multiverso DC", e diversas versões do mesmo herói começaram a surgir e a interagir umas com as outras, criando um verdadeiro desafio para os novos leitores que tentavam entender a confusa cronologia da editora.

The Brave and the Bold #28 e Flash #123

Conforme as décadas de 70 e 80 se passaram, os leitores de quadrinhos americanos cresceram, porém não abandonaram o hábito da juventude; pelo contrário, passaram a demandar histórias com enredos mais maduros e realistas, que retratassem as condições sociais do país naquela época, ignoradas até então em virtude do Comics Code Authority. No início da década de 70 a dupla Dennis O'Neil e Neal Adams abalaram as estruturas da indústria dos quadrinhos com a aclamada série Lanterna Verde/Arqueiro Verde, que mostrava os dois heróis esmeralda em uma viagem pelo território americano enfrentando os vilões da vida real, como os preconceitos racial e social, o crime organizado e as drogas. Embora não tenha feito tanto sucesso na época, esta história foi a semente para a grande revolução que ocorreria na próxima década.

Duas obras foram fundamentais para estabelecer a mudança de paradigma dentro do universo dos quadrinhos na década de 80: O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, e Watchmen, de Alan Moore. A primeira mostrava um Batman velho e amargurado sendo obrigado a deixar a aposentadoria para enfrentar a constante escalada do crime em Gotham City; já Watchmen trata-se de uma paródia do conceito que se tinha dos heróis uniformizados, expondo todas as suas fraquezas e defeitos quando inseridos na dura realidade da Guerra Fria. Estas duas Graphic Novels marcaram o fim da inocência dos quadrinhos, ao revelar um lado mais sombrio dos super heróis, e inauguraram a chamada Era Moderna dos Quadrinhos, também conhecida como a Era Sombria dos Quadrinhos.

Na tentativa de se adequar a este novo contexto, e desejando realizar uma faxina editorial que tornasse mais simples o entendimento de suas histórias, a DC Comics encomendou a histórica Crise nas Infinitas Terras, uma maxissérie em 12 edições nos mesmos moldes das Guerras Secretas da Marvel. Nesta saga os diferentes heróis das diferentes Terras precisaram se unir para enfrentar a ameaça do Antimonitor, que pretendia destruir todo o Multiverso até que só sobrasse o universo de antimatéria. O vilão foi derrotado no final, embora ao custo das vidas do Flash e da Supergirl, e todos os universos paralelos foram apagados e incorporados ao universo principal. Com o advento deste recém criado universo, todas as revistas da editora sofreram um reboot, e as origens de seus principais heróis foram completamente reformuladas e atualizadas. A nova origem do Superman foi mostrada na minissérie O Homem de Aço, de John Byrne; já Frank Miller reescreveu a origem do Cavaleiro das Trevas em Ano Um; e George Pérez ficou com a revista da Mulher Maravilha. O ajudante do Flash, Wally West, antigo Kid Flash, herdou o manto de seu professor, e se tornou o novo velocista a proteger as cidades gêmeas de Keystone e Central City.

A fase que sucedeu a Crise nas Infinitas Terras é a que a maioria de nós, nascidos nas décadas de 80 e 90, acompanhamos durante nossa juventude. Todas as referências que temos, tudo que sabemos sobre os heróis da DC, as grandes sagas que marcaram época, pertencem a esta fase.


Crise nas Infinitas Terras

A década de 90 foi uma espécie de Idade Média dos quadrinhos. Após a enxurrada criativa dos anos 80, veio a ressaca: os roteiros sofreram uma queda considerável de qualidade, e a arte passou por um dos piores momentos da história, em grande parte influenciada pelo surgimento da Image Comics, editora formada por artistas descontentes com a política protecionista das grandes editoras em relação aos direitos dos personagens criados por eles. Os títulos da Image não tinham como prioridade o roteiro, e apelavam para um estilo de arte controverso, com super heróis exageradamente musculosos e armados até os dentes e heroínas voluptuosas de curvas extravagantes. Infelizmente este estilo se alastrou para as editoras principais, já que, de certa maneira, ele agradava aos jovens leitores da época, sem contar que era um reflexo do que se via também no cinema, com filmes de ação estrelados por brucutus como Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone e Jean-Claude Van Damme.

Outro fator que caracterizou esta época foi a decisão da DC de quebrar a invencibilidade de seus principais heróis, permitindo algumas decisões criativas bastante polêmicas, tais como: matar o Superman; tornar o Batman paraplégico e substituí-lo por um vigilante psicótico; fazer Hal Jordan se transformar no supervilão Parallax. Também era comum que várias dessas histórias se passassem em imensos arcos, as chamadas megassagas, que duravam meses ou até mesmo anos, e se passavam em diversos títulos, de modo que para acompanhar tudo o que estava se passando era preciso ser rico ou viver apenas de quadrinhos. Um claro exemplo disso foi a saga Terra de Ninguém, que afetou as revistas do Batman e de seus associados.

Para variar, a DC não poderia deixar de realizar um grande crossover entre seus principais títulos. Desta vez a "crise" não teve a ver com dimensões paralelas, mas com o tempo. Em Zero Hora, Hal Jordan, agora um dos vilões mais poderosos do universo, tentou reiniciar a linha do tempo para apagar a destruição de Coast City. A conclusão desta saga causou mudanças para alguns personagens da DC, em uma escala bem menor do que as que aconteceram na Crise nas Infinitas Terras. Por exemplo, a carreira de prostituta de Selina Kyle antes dela se tornar a Mulher Gato, como visto em Ano Um, foi eliminada da continuidade, todas as versões do Gavião Negro foram unidas em uma só, e o filho do Arqueiro Verde foi introduzida na cronologia.

Apesar de todas as dificuldades, a década de 90 também teve seus pontos altos. Um deles foi a criação do selo adulto da DC, a Vertigo. A criação deste selo remonta ao final da década anterior, quando da "invasão britânica" aos quadrinhos estadunidenses. Após o sucesso do roteirista Alan Moore na revista do Monstro do Pântano, a editora chefe Karen Berger entregou diversos personagens menores da DC para roteiristas vindos do Velho Continente, concedendo-lhes total liberdade criativa. Neil Gaiman pegou Sandman, um herói obscuro da Era de Ouro, e o transformou numa das maiores obras primas da nona arte; Jamie Delano recebeu a oportunidade de trabalhar as origens do anti herói místico John Constantine, nascido nas páginas do Monstro do Pântano; enquanto Grant Morrison pôde aplicar na revista do Homem Animal várias de suas ideias mirabolantes. A Vertigo foi criada em 1993 e reuniu todas as revistas que recebiam a indicação "Sugerido para Leitores Maduros", como forma de escapar da censura do Comics Code Authority, e foi responsável pelas melhores histórias lançadas na época.

A Morte do Superman e A Saga do Monstro do Pântano

A virada do milênio inaugurou uma fase de excelentes histórias, capitaneadas por um time de roteiristas de peso, como Geoff Johns, Greg Rucka, Grant Morrison e Mark Waid. Dentre eles com certeza o principal foi Johns, responsável por reintegrar Hal Jordan ao panteão dos principais heróis da DC em Lanterna Verde: Renascimento, e por fazer novamente o Superman ter boas histórias, como Superman: O Último Filho, Brainiac e Nova Krypton. Geoff Johs esteve à frente também das grandes sagas que sacudiram as estruturas do Universo DC, como Crise Infinita e A Noite Mais Densa. A primeira foi concebida como uma continuação para a Crise nas Infinitas Terras, promovendo algumas mudanças no status quo da editora, como o ressurgimento de um Multiverso composto por 52 realidades alternativas.

Grant Morrison, por sua vez, levou os enredos das revistas do Morcego para direções totalmente inesperadas. Para começar, ele deu um filho para o Batman. O garoto, Damian Wayne, é filho de Bruce Wayne com Tália al Ghul, e teria sido fruto de uma relação que os dois tiveram no passado. Após descobrir a existência da criança, o passo mais óbvio, pelo menos para  Batman, foi treiná-lo para ser o próximo Robin. Todas as histórias que vieram a seguir conduziram o Morcego à sua derradeira batalha contra o deus Darkseid em Crise Final, na qual o Batman aparentemente morreu. Apesar do título ter prometido uma grande mudança editorial na DC (afinal, a palavra "Crise" estava no título), levando ao provável reboot que todos já esperavam, o resultado desta saga foi "apenas" a morte do Batman - e sua consequente substituição por Dick Grayson -, e o retorno do Flash Barry Allen, após ter ficado anos preso dentro da Força da Aceleração.

O tão esperado (e temido) reboot aconteceu após a minissérie Flashpoint, iniciado em 2011. Barry Allen mal voltou e já faz m3r#@ quando decide voltar no tempo para impedir o Flash Reverso de assassinar sua mãe, porém isso acaba afetando a linha do tempo e modificando eventos primordiais da vida de praticamente todos os personagens da DC. O Batman agora era Thomas Wayne, que decidiu se tornar um vigilante após a morte do filho Bruce, assassinado por um criminoso; o Superman nunca foi encontrado por seus pais terrestres, e desde criança permaneceu sob a custódia do governo americano; e a Mulher Maravilha e Aquaman lideram uma batalha entre Themyscira e Atlântida, que mergulha o mundo inteiro no caos. O Flash consegue reverter este cenário, mas não ao status de antigamente; toda a cronologia DC é zerada e reiniciada em uma nova linha do tempo conhecida como Os Novos 52.

Crise Infinita

O medo dos fãs de que um reboot muito radical acabasse por mudar demais a cara do Universo DC acabou se provando justificado. Apesar de alguns acertos, Os Novos 52 foi um período desastroso para a DC Comics. Alguns personagens ficaram muito descaracterizados, e essas mudanças não agradaram nem um pouco os leitores mais antigos. Enquanto Batman e Lanterna Verde tiveram poucas mudanças, Superman e Mulher Maravilha foram completamente reformulados. A origem clássica da princesa amazona, na qual ela era nascida do barro, foi trocada para uma na qual ela era filha de Zeus, e, consequentemente, uma semideusa; já o Superman deixou de ser aquele herói experiente e "certinho" que estávamos acostumados para se tornar um herói mais jovem e agressivo. As relações de ambos com seus pares românticos de longa data, Steve Trevor e Lois Lane, respectivamente, foram deixadas de lado, e os dois heróis formaram um par romântico que dividiu opiniões.

Em relação aos acertos desta fase, não poderia deixar de citar o Batman, que se tornou o principal carro-chefe da DC, e seu principal impulsionador de vendas. Sob a tutela de Scott Snyder e Greg Capullo, tivemos excelentes histórias como A Corte das Corujas, que introduziu um novo e interessante vilão, e os arcos A Morte da Família e Fim de Jogo, ambos focados na relação entre Batman e o Coringa. Outro ponto alto dos Novos 52 foi a reformulação do Aquaman tocada por Geoff Johns, com o objetivo de limpar a ficha do herói marítimo, livrando-o do carma de super herói mais inútil da editora.

Ainda assim, os erros foram maiores que os acertos, e não demorou para os editores perceberem que seria necessária uma mudança que trouxesse de volta elementos clássicos dos velhos tempos da DC, sem, contudo, abrir mão das atualizações realizadas até então. Foi então que surgiu a ideia do Rebirth, fase mais atual da DC, que veio para consertar as falhas dos Novos 52, explicadas como uma manipulação espaço-temporal realizada por uma misteriosa entidade, possivelmente o Dr. Manhattan, do universo de Watchmen. Esta entidade teria interferido nos eventos de Flashpoint e "roubado" uma década inteira da vida de todos os heróis, afetando negativamente suas vidas ao impedir que certos laços fossem consolidados.

O Rebirth (ou Renascimento, como está sendo promovida aqui no Brasil pela Panini) ainda está envolta em muitos mistérios, e está longe de acabar; porém o seu objetivo é claro: além de restaurar a DC ao seu status quo original de antes do Flashpoint, é também o de integrar o universo de Watchmen ao universo regular da editora. Uma decisão corajosa, no mínimo, já que Watchmen possui fãs muito fervorosos, que com certeza não ficarão nem um pouco animados com sua adição ao universo mainstream. O sucesso das vendas, que colocaram as revistas da DC novamente no topo nos EUA, mostram que a editora está no caminho certo, e até agora vem agradando à maioria dos fãs. Resta-nos torcer para que os roteiristas sejam capazes de entregar uma história digna dos quase 80 anos desse incrível Universo.

Rebirth

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