"Deuses e homens mortais compartilham uma qualidade. Para saber quem somos, devemos matar nossos pais. Para os mortais, isto é uma metáfora, um meio de dizer que você deve sair da sombra de seu pai e decidir quem você e sem buscar aprovação ou permissão. Mas para um deus, isto significa algo completamente diferente." - Odin
Se há uma constante nas aventuras de Thor, o Deus do Trovão da Marvel, é a relação conturbada que ele mantém com seu pai, Odin, o governante supremo de Asgard. Pai e filho sempre tiveram uma convivência difícil, marcada por discussões e desavenças. Embora Thor fosse o filho "predileto" de Odin, suas atitudes impetuosas volta e meia causavam problemas para o monarca, que chegou ao ponto de banir o próprio filho e obrigá-lo a viver entre os humanos como um reles mortal. Apesar de tudo, Odin sempre nutriu amor por sua prole, o que ficou provado quando ele se sacrificou para que Thor e Asgard continuassem vivos, pelo menos por um tempo. Então veio o Ragnarok, quando Thor liderou os deuses asgardianos em sua última batalha, na qual pereceram, e, anos depois, foi este mesmo Deus do Trovão quem os trouxe de volta à existência, com exceção de um: Odin. Neste segundo arco de histórias no comando dos roteiros da revista Thor, J. M. Straczynski se propõe a explicar por que Thor tomou a controversa decisão de não ressuscitar o próprio pai, revisitando o passado de Odin a fim de entender a natureza da relação entre ele e Thor. Além disso, o autor também se utiliza desta temática para revelar o verdadeiro motivo do Pai de Todos ter decidido adotar o filho de seu maior inimigo, e porque escondeu de todos o fato de Balder também ser seu filho, reconciliando assim a origem do personagem com sua contraparte mitológica.
A história começa logo após Thor ter trazido de volta à vida todos os asgardianos. Completamente exaurido, ele entra em uma espécie de câmara de descanso, que simula uma situação intermediária entre a vida e a morte, e finalmente descobre o paradeiro de Odin. Os dois travam um diálogo interessante, através do qual ficamos sabendo como era a relação entre Odin e seu pai, o deus Bor, bem como quais foram as circunstâncias da morte do avô de Thor e como isso se relacionou com a decisão de Thor de manter o pai esquecido. Este encontro é narrado nos dois primeiros capítulos deste arco, cujos desenhos ficaram a cabo do alemão Marko Djurdjevic, que conseguiu manter a qualidade da arte, embora não ostentando o mesmo estilo de Olivier Coipel.
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Thor e Odin Juntos Conta Surtur |
Straczynski tece uma trama intrincada, juntando aos poucos cada elemento individual do quebra cabeças, inclusive os acontecimentos do passado de Odin, para revelar o grandioso plano de Loki de finalmente derrotar o irmão. É impressionante o cuidado do roteirista com cada aspecto do estratagema, e para aqueles que gostam do tema viagem no tempo, esta história é um prato cheio, já que Loki manipula até mesmo eventos que já aconteceram para influenciar a decisão de alguns personagens. Retcons são sempre artifícios arriscados, e não são poucos os roteiristas que acabam errando a mão ao tentar reescrever a história de um personagem ou um determinado evento de sua cronologia, mas Straczynski cumpre bem esse desafio, apresentando um enredo que faz sentido e não soa forçado, e ainda por cima nos proporciona uma empolgante história de origem para o vilão Loki.
O personagem que mais se destaca, sem dúvida, é o Deus da Trapaça. Conforme visto no volume anterior, Loki retornou dos mortos num corpo de mulher. Ele (ou ela, sei lá) é de longe a personagem mais cativante desta HQ, principalmente devido a seu senso de humor cínico. Straczynski faz dela uma vilã fria, ardilosa e extremamente manipuladora - características que viriam a ecoar em sua representação no cinema por Tom Hiddleston. O motivo de sua encarnação feminina começa a ser revelado nesta história, e faz parte de uma importante subtrama envolvendo o par romântico de Thor, a Lady Sif, que, assim como Odin, não havia retornado dos mortos. Outro personagem que merece menção é Balder, conhecido por ser um grande amigo de Thor. Ele é um dos elementos-chave do plano de Loki, e, embora não confiando plenamente nele(a), acaba aceitando alguns de seus conselhos e entrando em seu jogo de manipulação.
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Loki |
O final concebido por Straczyski para este arco é trágico para o Deus do Trovão, que, mais uma vez, acaba sem o seu martelo, o Mjolnir, destruído na batalha contra Bor. Loki finalmente consegue realizar seu maior objetivo, e o mais impressionante é que ele(a) não precisa mover um músculo para tanto. Tudo é feito por outros, sem nem perceber que estavam fazendo a vontade do(a) deus(a). Todos estes eventos convergem para culminar no próximo grande arco do Thor, pois, como descobrimos no final, Loki estava agindo em conluio com outro grande vilão do Universo Marvel. Apesar de ter sua própria trama, basicamente girando em torno do tema paternidade e de mostrar o desenrolar do plano de Loki, Thor: Em Nome do Pai também funciona como um prelúdio para o evento Thor: O Cerco, que envolve outros personagens e equipes da Marvel.
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Thor, Balder e Loki |
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