Muitos de nós, fãs incondicionais de quadrinhos de super heróis, crescemos assistindo àquele famoso desenho animado dos Superamigos, da Hanna-Barbera, que trazia os mais importantes personagens da DC Comics em sua versão animada (se você foi um dos que assistiram este desenho, saiba, meu amigo, que está ficando velho!). Muitos de nós, aliás, tivemos nosso primeiro contato com personagens como Batman, Superman e Mulher Maravilha através desta animação. Havia uma temporada deste desenho - intitulada O Desafio dos Superamigos -, em que os super heróis enfrentavam uma sinistra equipe formada por alguns dos maiores super vilões da DC Comics da época: a Legião do Mal. Foi desta série que veio a inspiração para a criação de Justiça, uma maxi-série em 12 edições concebida pela lenda viva da nona arte Alex Ross (Marvels, Reino do Amanhã, Terra X), com roteiros de Jim Krueger (Terra X) e lápis de Doug Braithwaite.
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Se existe um motivo básico para ler esta história, sem sombra de dúvida é a fabulosa arte de Alex Ross. Cada quadro do artista é, literalmente, uma pintura, que impressiona por sua aparência realística, apesar da caracterização clássica dos personagens (não é mistério para ninguém que Alex Ross é um entusiasta do estilo clássico da Era de Prata dos quadrinhos). Somente ele para desenhar um Superman ultrarrealista vestindo seu famoso uniforme azul, amarelo e vermelho, e com a cueca por cima da calça! E o que dizer das splash pages mostrando, nos mínimos detalhes, épicas cenas de batalha entre diversos heróis e vilões da DC: um verdadeiro prato cheio para os fãs de histórias de super heróis em sua forma mais clássica! No entanto, seria injusto atribuir todo o crédito da arte apenas a Alex Ross, já que nesta nesta Graphic Novel em particular ele colaborou com o desenhista britânico Doug Braithwaite, o qual forneceu os esboços a lápis sobre os quais Ross pintou. Felizmente, o estilo do traço de Braithwaite é bastante parecido com o de Alex Ross, de modo que o resultado foi um verdadeiro amálgama da arte de ambos.
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Superman, por Alex Ross |
Mas não é só por causa da belíssima arte que vale a pena ler Justiça: o roteiro de Jim Krueger também tem seus méritos. A premissa básica de Justiça é bastante interessante: e se os maiores super vilões do planeta decidissem empregar seus dons, normalmente utilizados em crimes mesquinhos ou em planos de dominação mundial, para resolver os problemas da humanidade? É justamente isto que acontece no primeiro ato de Justiça: motivados por um pesadelo compartilhado, no qual a Liga da Justiça falha em salvar o mundo de um Armagedom nuclear, os vilões decidem se unir e fazer aquilo que os maiores heróis do planeta não se dispuseram a fazer até então: curar doenças, resolver o problema da fome, transformar desertos em florestas, enfim, melhorar a vida dos humanos comuns. A grande questão é: será que todos estes atos são genuinamente altruístas, ou há algum plano maligno por trás de tudo? Pois, ao mesmo tempo em que anunciam seu plano de salvação para o planeta, os vilões lançam um ataque orquestrado e avassalador contra a Liga da Justiça, inutilizando seus membros mais poderosos.
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Ataque à Mulher Maravilha |
Um ponto negativo do enredo de Justiça é justamente o fato de o conceito principal da trama não ser desenvolvido ao longo da história, que embarca em uma linha mais voltada para o embate clássico entre heróis e vilões. Além disso, falta coragem quando nenhum dos heróis derrubados sofre qualquer dano permanente, mesmo o Aquaman, que tem um pedaço do cérebro cirurgicamente removido por Brainiac. Mesmo a questão das identidades civis dos membros da Liga da Justiça, descobertas durante o ataque da Legião do Mal, é resolvida de maneira simples e rápida, para que, ao final, o status quo dos heróis continue o mesmo de antes. Ao final de Justiça, absolutamente nada muda para os heróis, a não ser o conhecimento de que eles não são, afinal, invencíveis. Mas esta é, por si só, a essência da Era de Prata: de que, apesar de tudo parecer que irá dar errado no começo, os verdadeiros heróis encontrarão as forças para dar a volta por cima e fazer com que tudo volte ao normal.
A conclusão da história é nada menos do que épica, e faz jus ao título que Alex Ross originalmente usaria: Vs (Versus). É herói contra vilão, ou melhor, em alguns casos, chega a ser herói contra herói, já que os vilões voltam os pupilos dos membros da Liga da Justiça contra seus antigos mentores. Numa batalha que toma grande parte das três últimas edições, vários heróis da DC Comics tomam parte do conflito: além da Liga e dos Jovens Titãs, temos a Patrulha do Destino, os Homens Metálicos e a Família Marvel (não, não estou falando dos Vingadores!). Sendo esta uma história com o dedo de Alex Ross, um personagem que ganha bastante destaque é o Capitão Marvel, que tem diversas cenas excelentes ao lado do Superman.
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O Capitão Marvel |
Apesar do grande número de personagens, o roteirista soube onde colocar cada um deles e empregar seus poderes com bastante eficiência, até mesmo personagens secundários como o Homem Elástico ou os Homens Metálicos. E por falar nos coloridos robôs do Dr. Magnus, não se pode concluir uma resenha de Justiça sem falar nas controversas armaduras usadas pelos heróis da Liga da Justiça no confronto final com a Legião do Mal. Alex Ross nunca escondeu que o preço para publicar Justiça foi criar uma linha de personagens que a DC pudesse utilizar para vender bonecos. Esta não foi a primeira vez que uma editora fez isso, tampouco a última; contudo, Krueger insere a necessidade das armaduras de forma bem natural e coerente em seu roteiro, de modo que o novo visual não causa nenhum problema à história em si, a não ser por ter tirado o glamour das cenas finais, que teriam sido muito melhores com os heróis em seus trajes clássicos.
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A Liga da Justiça com suas Armaduras |
Não ouso dizer que Justiça seja um clássico, um divisor de águas para o gênero, uma obra-prima dos quadrinhos; porém ela é uma excelente pedida para quem gosta de uma boa história de super heróis, repleta de ação, planos mirabolantes, reviravoltas e dezenas dos personagens mais clássicos da Editora das Lendas lutando entre si, tudo isso retratado com uma arte soberba. Justiça é uma homenagem a uma era dos quadrinhos em que as coisas eram mais simples e ingenuamente otimistas, quando os enredos ainda não haviam sido contaminados pelo cinismo da década de 80. Enfim, Justiça é uma carta de amor escrita e desenhada por um grande fã para outros fãs.
E se o amigo leitor estiver se perguntando como fazer para ler esta HQ, existem algumas opções: a primeira é ler as edições individuais que foram publicadas pela Panini na época do lançamento, e que com sorte podem ser encontradas no Mercado Livre; a segunda, e mais indicada, é adquirir a Edição Definitiva lançada por esta mesma editora no Brasil, uma versão de luxo lindíssima publicada em tamanho grande, maior que o formato americano (mais comumente utilizado pela Panini). O problema desta edição é que, assim como todas as edições definitivas publicadas pela Panini, ela se esgota muito rápido nos sites de venda, então não é nada fácil encontrá-la à venda. Mas não perca a esperança: por último há a versão da Eaglemoss, que saiu na coleção de Graphic Novels da DC da editora inglesa nos números #27 e #28, e que podem ser encontrados facilmente no site da editora. Boa leitura!
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Capa da Edição Definitiva de Justiça |