O Batman já enfrentou todo tipo de ameaça - assassinos psicopatas, monstros horripilantes, policiais corruptos e organizações criminosas são apenas alguns exemplos da escória com a qual ele tem que lidar todas as noites para proteger seu lar, Gotham City, porém em março de 1996 o Cavaleiro das Trevas se viu diante de um inimigo contra o qual suas habilidades marciais, batarangues e demais aparatos tecnológicos eram completamente ineficazes, um adversário ao mesmo tempo invisível e mortal, que não poderia ser aterrorizado, ameaçado ou persuadido: o vírus Ebola Golfo-A, mais conhecido como o Esmagador. Gotham City foi vítima de uma praga sem precedentes, e o Cruzado Encapuzado precisou de toda ajuda possível para impedir que sua amada cidade se transformasse em um gigantesco cemitério.
Em se tratando de um crossover, tática comercial bastante comum no mundo dos quadrinhos para aumentar os lucros das editoras, a história se desenrola por diversos títulos ligados ao Batverse: Robin, Mulher Gato, Azrael, Detective Comics, Shadow of the Bat e a própria revista Batman. Diversos escritores colaboraram para a construção do enredo, como Alan Grant, Chuck Dixon e Dennis O'Neil. Apesar de original em uma história em quadrinhos, o roteiro de Contágio não apresenta nada de novo, ostentando todos os elementos já bastante manjados de uma trama sobre epidemias: a corrida contra o tempo em busca de uma cura, que provavelmente se encontra no sangue de um paciente imune; o desespero das pessoas cujos entes queridos contraíram o vírus; além de revoltas, saques, secreções, pústulas e muito, muito sangue. Apesar disso, a história não chega a ser necessariamente ruim, e tem lá seus pontos positivos. O que torna Contágio um arco geralmente desprezado pelos fãs é sua arte.
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Batman de Kelley Jones |
Não bastasse a saga contar com diversos desenhistas, todos eles são ruins! Não tem nenhum que salva! Todos os desenhistas que colaboraram para Contágio estavam contagiados (perdão pelo trocadilho) pelo vírus que se espalhou a partir da Image Comics e que afetou as grandes editoras nos anos 90. Dentre os vários sintomas desse vírus, o principal era o exagero. Tudo, simplesmente tudo era exagerado nos desenhos da época. Músculos, armas, seios, bundas, tudo era anormalmente grande, nem mesmo as "orelhas" do Batman escaparam. Esta época proporcionou os piores visuais para os vários personagens da DC. O velho uniforme cinza e preto do Batman foi substituído por uma versão totalmente preta, mantendo a famosa elipse amarela, remetendo ao filme interpretado por Michael Keaton, de 1989, que trouxe o Batman de volta para os holofotes. Se fosse só isso não ficaria tão ruim, mas deem uma olhada no Batman desenhado por Kelly Jones, na imagem acima. É simplesmente horrível! Ele mais parece uma gárgula do que um vigilante. E não para por aí: temos o Asa Noturna com rabinho de cavalo estilo Steven Seagal, a Mulher Gato vestindo um uniforme branco pavoroso e um Robin que não sabe se é criança, adolescente ou adulto.
Caso o leitor, assim como aquele que vos escreve, decida ignorar a arte e focar apenas no roteiro, encontrará uma história repleta de altos e baixos: o início é bastante promissor, repleto de ação, e focado principalmente em uma improvável aliança entre o Menino-Prodígio e a Mulher Gato para encontrar um homem que talvez tenha a cura para o Esmagador. Entretanto, a história dá uma esfriada no meio, quando o Batman e seus aliados precisam enfrentar uma multidão revoltosa que se volta contra os ricos e abastados de Gotham, os quais se refugiraram em um imenso condomínio de luxo que mais parece uma fortaleza medieval. A história volta a ganhar ritmo perto do fim, quando alguém próximo ao Batman é infectado pelo vírus, e o desespero do Morcego atinge o ponto máximo após todas as suas tentativas de encontrar uma cura falham. A solução para a crise acaba vindo de um aliado improvável: o ex-assassino da Ordem de São Dumas, Azrael (o mesmo que assumira o manto do Morcego no arco A Queda do Morcego). Aliás, é bom que fique registrado que Contágio é mais uma história dos aliados do Batman, que acaba agindo mais como um coadjuvante. Quem rouba a cena são Robin, Mulher Gato e Azrael, este último protagonizando ótimas cenas de ação com suas espadas flamejantes. Também dão o ar da graça Asa Noturna, Oráculo, Caçadora e o assassino de aluguel Hitman.
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Azrael |
Não considero Batman: Contágio como uma história indispensável do Batman, sendo recomendada apenas para aqueles que se consideram realmente fãs de carteirinha do Cavaleiro das Trevas e querem entender mais sobre sua trajetória. Ainda assim, esta saga teve sua importância, por ter sido precursora de outra megassaga da DC na década de 90, a Terra de Ninguém, que também tem como tema uma catástrofe natural que se abate sobre Gotham City, só que desta vez mais devastadora e mortal. Além disso, Contágio termina com um gancho para a saga Legado do Demônio, que funciona meio que como uma conclusão para a primeira, já que revela quem foi o responsável pela epidemia do Esmagador (é claro que havia um grande vilão do Batman por traz desta ameaça). Para aqueles que se interessaram em ler esta história, ela não foi republicada no Brasil, e, justamente por sua qualidade dúbia, não está no radar da Panini (e nem dos fãs), portanto só é acessível através de importação ou uma cruzada através de sebos e lojas virtuais especializadas. Espero que tenham gostado da minha resenha, e até a próxima. Boa leitura!
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Capa da revista Batman #29 |
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