quinta-feira, 21 de julho de 2016

[RESENHA] Capitão América: O Soldado Invernal


Capitão América e Soldado Invernal

Capitão América: O Soldado Invernal é uma história em quadrinhos escrita pelo roteirista ganhador do prêmio Eisner Ed Brubaker e desenhada pelo artista Steve Epting, reunindo as edições #01 a #14 da revista mensal do Capitão América, da Marvel Comics. Antes de iniciar minha resenha sobre esta história, farei uma breve introdução sobre este herói, cuja popularidade tem crescido vertiginosamente nos últimos anos devido à seus filmes solo e sua participação nos dois filmes dos Vingadores, da Marvel Studios (Disney). Embora sua imagem seja amplamente conhecida pelos geeks, que ostentam orgulhosamente seu escudo vermelho, azul e branco em camisetas e acessórios, nem todo mundo conhece sua trajetória nos quadrinhos.

O Capitão América, cujo nome deveria ter sido Super American (não o foi devido à existência de outro famoso "super" nos quadrinhos), foi criado pelos quadrinistas norte-americanos Joe Simon e Jack Kirby, e estreou em 1941 nas páginas da Capitain América Comics #1, da Timely Comics - predecessora da atual Marvel Comics. Após receber o famoso soro do supersoldado, que lhe conferiu força e agilidade sobre-humanas, Steve Rogers combateu as potências do Eixo, principalmente os nazistas, ao lado do parceiro mirim Bucky, durante a Segunda Guerra Mundial. Naquela época a popularidade dos quadrinhos de super heróis estava em alta nos EUA, especialmente o Capitão América, por se tratar de um símbolo patriótico.

Quando a guerra acabou, no entanto, as vendas diminuíram, levando ao cancelamento da revista do Sentinela da Liberdade. Em 1953 ele retornou brevemente, desta vez lutando contra os comunistas nos primórdios da Guerra Fria, mas foi um fracasso de vendas, e também foi cancelado. O herói só retornaria pra valer em 1964, quando foi ressuscitado por Stan Lee, autor da célebre história que conta como o Capitão América, ao tentar impedir um drone experimental lançado pelo Barão Zemo, caiu no Atlântico Norte e ficou congelado durante décadas, mantido em animação suspensa pelo soro do supersoldado em suas veias. Seu jovem parceiro, Bucky, também teria morrido nesta ocasião, vítima da explosão do drone. O Capitão América foi reanimado anos depois e passou a integrar e liderar a equipede super heróis conhecida como Os Vingadores.

A Morte de Bucky

Tendo sido criado em um momento histórico específico, com um objetivo claramente político - o de incutir o sentimento nacionalista nas crianças americanas - não é uma tarefa fácil manter o Capitão América atualizado para as novas gerações. A grande dificuldade de se trabalhar com este personagem, que outros não enfrentam, é desvincular sua imagem do país cuja bandeira ele exibe no escudo. No mundo globalizado como o de hoje, obter apelo fora do território norte-americano, e até mesmo dentro dos próprios EUA, onde a cada ano cresce a população de imigrantes, não é uma tarefa fácil. Por esta razão ele teve que ser continuamente reinventado, e aos poucos deixou de ser o defensor de uma pátria específica para ser o sentinela dos ideais que esta pátria representa. Mas isto não seria o bastante para alçar o Capitão América ao panteão dos heróis mais famosos da Terra. E foi aí que entrou Ed Brubaker, roteirista recém saído da DC Comics, que assumiu o comando do título em 2005, quando a popularidade do herói estava em baixa, e iniciou uma fase que se tornaria a mais aclamada do personagem até os dias atuais.

Vários foram os motivos que levaram esta saga a ser um sucesso de crítica e vendas: tramas no estilo dos filmes de espionagem, abordando temas históricos remetendo à Segunda Guerra Mundial e à Guerra Fria; a arte realística de Steve Epting, capaz de imergir o leitor no ambiente permeado de mistérios, ficção e cenas de ação espetaculares; e sobretudo a coragem e sagacidade do roteirista ao alterar um dos principais pilares do cânone do Capitão, que por décadas foi considerado algo imutável nos quadrinhos: a morte de Bucky. Tal qual a morte do tio Ben, ou dos pais de Bruce Wayne, a morte de Bucky era um fato concreto, o que é algo raro no mundo dos quadrinhos, seja da Marvel ou da DC, onde a ressurreição de personagens é algo quase corriqueiro. Assim sendo, ressuscitar Bucky poderia ser um tiro no pé, ou como mexer em merda seca: só de tocar começa a feder. Porém Ed Brubaker, ignorando todos os avisos, seguiu em frente com o seu plano, e o resutado foi o nascimento de um novo personagem de sucesso da Marvel: o Soldado Invernal.

O Soldado Invernal

O Soldado Invernal começa logo após a dissolução dos Vingadores no evento A Queda, no qual a Feiticeira Escarlate perdeu o controle de seus poderes e matou o Visão, o Homem Formiga e o Gavião Arqueiro, provocando o fim dos Vingadores. O Capitão América ainda está muito abalado pela perda dos amigos, e isto se reflete em sua maneira de lidar com os criminosos, que está muito mais violenta do que o normal. Em parceria com a Agente 13 e Nick Fury, da força-tarefa de manutenção da paz da ONU, a SHIELD, ele descobre um elaborado plano de seu inimigo mais antigo, o Caveira Vermelha: o vilão pretende recarregar um cubo cósmico - objeto que possui a capacidade de tornar desejos em realidade - através da morte de milhares de pessoas nas principais cidades do Ocidente: Nova York, Paris e Londres. Mas o inesperado acontece: o Caveira Vermelha é morto por um misterioso soldado e o cubo é roubado.

Enquanto investiga as circunstâncias da morte do Caveira, o Capitão América começa a ter várias lembranças de seu passado destravadas. Estas lembranças são mostraras para o leitor na forma de flashbacks desenhados pelo artista Michael Lark, e podem ser diferenciadas dos quadros normais pela colorização em tons preto e brancos, fazendo alusão aos filmes e documentários produzidos na época da Segunda Guerra Mundial, que tinham este aspecto. Brubaker usa as lembranças de Steve Rogers para costurar a trama do Soldado Invernal, embora não se perceba isto a princípio. E aproveita para atualizar alguns acontecimentos do passado do herói para os novos fãs, menos predispostos a aceitar explicações que os fãs mais ingênuos do século passado aceitariam. Ele muda a idade e Bucky, que passa a ter 16 anos na época da guerra, uma idade mais próxima da do Capitão, e estabelece que a parceria dos dois foi planejada pelo exército para estimular os jovens americanos a se alistarem.

Brubaker também mostra que fez o dever de casa ao fazer algumas citações de eventos que muitos desconhecem da época da Segunda Guerra Mundial. A que eu achei mais interessante, talvez devido aos ataques terroristas que a França vem sofrendo nos últimos dias, foi o massacre de mais de 600 civis franceses pelos nazistas porque eles haviam impedindo os tanques alemães de chegarem à Normandia no Dia D. Steve Rogers cita este acontecimento como motivo suficiente para os americanos não considerarem os franceses covardes por terem se rendido aos alemães na guerra.

O Capitão América Assiste ao Treinamento de Bucky

Outro ponto positivo no roteiro de Ed Brubaker é o respeito pelo legado deixado pelos seus antecessores à mitologia do Capitão América. Ele faz menção aos outros homens que vestiram o uniforme do Capitão após a Segunda Guerra, quando Steve Rogers estava congelado, amarrando alguns pontas soltas deixadas por décadas de histórias do personagem. Brubaker dedica um capítulo inteiro, denominado A Solitária Morte de Jack Monroe, a Jack Monroe, a versão de Bucky dos anos 50, quando o Capitão América era na verdade um professor que queria ser Steve Rogers. É uma belíssima homenagem a um personagem que possui um papel pequeno na trama, mas que teve sua importância na mitologia do Capitão.

Capitão América e Bucky dos Anos 50

Todas estas lembranças e homenagens que Brubaker utiliza em seu enredo, no entanto, possuem o objetivo de preparar o leitor para o grand finale que ele elaborou tão cuidadosamente . Ele foge do habitual ao contar a origem do Soldado Invernal através de anotações médicas e relatórios ultrassecretos da KGB, mostrando como o corpo de Bucky foi encontrado no oceano pelos russos, seu condicionamento mental que o transformou num assassino sangue frio, e as diversas missões que ele realizou para os camaradas comunas. Talvez o grande trunfo no roteiro de Brubaker tenha sido nos apresentar uma história de origem convincente, sem apelar para explicações impossíveis como viagens no tempo, socos na realidade ou poços milagrosos. Até o fato de Bucky não ter envelhecido é explicado com maestria: o Soldado Invernal passava a maior parte do tempo em animação suspensa, e só era acordado quando tinha um alvo para eliminar.

O final desta história é agridoce, porém Brubaker deixa claro que a história do Soldado Invernal está apenas começando. Contamos também com a participação especial de dois importantes membros dos Vingadores: o Falcão e o Homem de Ferro. Com certeza uma HQ indispensável para os fãs do Sentinela da Liberdade, e para aqueles que querem saber mais sobre este incrível personagem além do que aparece nos filmes. Esta história faz parte de uma coleção de encadernados intitulada Marvel Deluxe: Capitão América, que até agora é composta por 6 edições em capa dura, de excelente qualidade, e também da coleção de Graphic Novels Marvel da Salvat. Eu usei como base para esta resenha o encadernado da Panini.

Boa leitura! 

Capa de O Soldado Invernal

segunda-feira, 18 de julho de 2016

[RESENHA] REINO DO AMANHÃ

Reino do Amanhã

Por algum motivo, as histórias regulares do Superman não costumam me agradar muito, salvo algumas exceções, como o arco de histórias que marcou a passagem de Geoff Johns (Brainiac, O Último Filho) nos roteiros da mensal do azulão. As melhores histórias do Superman encontram-se nas Graphic Novels, e entre estas há muitas sobre as quais eu gostaria de falar aqui, mas me decidi por Reino do Amanhã, por ser uma história que mergulha fundo na personalidade do herói. Muitos irão argumentar que esta não é uma história unicamente do Superman, pois ele divide espaço em suas páginas com diversos outros heróis do primeiro escalão da editora; entretanto, o Homem de Aço é o personagem central da trama, e tudo gira em torno de suas escolhas e ações.

Além do roteiro espetacular de Mark Waid, o que chama a atenção logo de cara nesta GN é a arte do lendário Alex Ross. O artista norte americano possui uma característica peculiar em seus desenhos: retratar os cenários e personagens da forma mais realista possível, como se suas ilustrações fossem fotografias, mas sem deixar de lado as características básicas que os identificam como pertencentes ao universo dos quadrinhos.

Espectro e Norman McCay

O leitor acompanha o desenrolar dos acontecimentos a partir do ponto de vista do pastor Norman McCay, o qual, guiado pelo anjo vingador Espectro, observa a tudo sob a ótica das profecias apocalípticas que aparecem para ele em sonhos. E assim, na companhia destes dois inusitados indivíduos, somos levados até o que parece ser uma típica fazenda do meio-oeste americano para descobrir que o maior herói do planeta desistiu de lutar pela humanidade para viver uma vida (quase) normal de fazendeiro. A desistência do Superman, contudo, ocasionou a ruptura da Liga da Justiça, de modo que os antigos heróis que a compunham desapareceram ou passaram a atuar na clandestinidade. O vácuo deixado por eles foi preenchido por uma nova geração de indivíduos superpoderosos, os quais não podem nem ser considerados super heróis: impulsivos, imaturos e violentos, eles digladiam-se uns contra os outros sem se importar com a vida de inocentes pegos no fogo cruzado.

A Nova Geração de Meta Humanos

Após uma desastrosa intervenção desses pretensos heróis liderados pelo impetuoso Magog - levando a uma tragédia nuclear que varreu do mapa o estado do Kansas -, Superman decide voltar de seu exílio autoimposto, e consegue reunir a maioria de seus antigos companheiros da Liga com o objetivo de forçar os meta humanos a se sujeitarem às leis. Esta não será uma missão nada fácil: sendo um super herói das "antigas", movido por um forte senso moral e ético, o Superman é considerado antiquado pela nova geração, pouco acostumada a ter alguém que lhes diga o que fazer. Ele acredita fortemente que conseguirá trazer paz ao mundo usando apenas a diplomacia, mas não tarda a perceber que seus métodos são pouco eficazes no mundo atual.

O resultado disso é que, pela primeira vez vemos o Superman indeciso, angustiado por não saber qual a melhor atitude a ser tomada, e acaba deixando suas decisões serem influenciadas pela Mulher Maravilha, que aqui reprisa o papel desempenhado no Cavaleiro das Trevas de Frank Miller - o da guerreira endurecida pelas batalhas e com um forte sentimento de superioridade em relação aos mais fracos. Além disso, ele passa a sofrer resistência de alguns heróis liderados pelo Batman, que não concorda com as atitudes quase fascistas do Superman. O kriptoniano chega ao ponto de criar uma penitenciária para trancafiar aqueles heróis que insistem em permanecer à sombra da lei (outro roteirista, provavelmente inspirado por Waid, viria a utilizar esta mesma ideia na aclamada Guerra Civil, da Marvel).

Superman

Reino do Amanhã apresenta um claro conflito de gerações, confrontando-nos com duas visões completamente opostas acerca desses personagens que consideramos ícones da cultura nerd: o herói clássico, aqui representado pela primeira geração de heróis, representada pelo Superman, que por anos serviram como inspiração para toda uma geração, mas que com o tempo foram se tornando antiquados e obsoletos, transformando-se por fim em meras marcas a serem comercializadas pelo mercado capitalista; e o herói moderno, representado pelos novos meta humanos, cuja única função é promover um entretenimento barato para a geração atual, acostumada com soluções rápidas e debates superficiais.

É inegável que, conforme o tempo avança, é preciso atualizar alguns aspectos dos personagens dos quadrinhos para evitar que fiquem ultrapassados, e fazer com que agradem aos novos fãs, mas este é um processo delicado, já que, se feito às pressas ou de forma drástica, pode acabar pervertendo as características essenciais de alguns personagens, e com isso afastando os leitores mais antigos. A DC Comics conseguiu cumprir esta função com relativo sucesso no final da década de 1980, com a Crise nas Infinitas Terras, porém, pouco mais de 20 anos depois veio outro reboot, e foi aí que as coisas desandaram. Na famigerada fase dos Novos 52 vários personagens sofreram mudanças para se adaptar aos novos tempos, e o que mais sofreu com estas mudanças foi justamente o Superman. Estas mudanças vão além de simples alterações no uniforme (a cueca por cima da calça finalmente desapareceu), alcançando a própria personalidade do herói, que deixou de ser o "escoteiro" e líder nato da Liga da Justiça para figurar como um jovem imaturo, cabeça quente e às vezes até mesmo violento. Essas mudanças acabaram refletindo na representação do personagem nas telonas: o Homem de Aço de Henry Cavill é sisudo e amargurado, não se importando de destruir completamente a cidade que tomou como lar para derrotar um oponente, ao custo da vida de milhares de inocentes.

Heroísmo em Conflito

Acho que é essa uma das principais mensagens que Mark Waid tenta passar com Reino do Amanhã, de que os super heróis precisam se adaptar para sobreviver aos novos tempos, porém sem jamais perder aquilo que é a sua essência mais pura: o senso de justiça que equilibra a balança de poder entre os mais fortes e os mais fracos, e o amor incondicional pela vida.

Se gostou desta resenha e é fã de boas histórias em quadrinhos, esta Graphic Novel não pode faltar na sua prateleira. Ela foi publicada aqui no Brasil pela Panini Books numa Edição Definitiva lindíssima, com 336 páginas e logicamente em capa dura. Boa leitura!


Capa da Edição Definitiva de Reino do Amanhã

segunda-feira, 11 de julho de 2016

[RESENHA] Batman: Vitória Sombria


Leitura prévia:

Batman: Vitória Sombria é uma história em quadrinhos em 14 partes publicada pela DC Comics entre 1999 e 2000, quando o escritor Jeph Loeb e o artista Tim Sale novamente uniram forças para dar sequência à aclamada série O Longo Dia das Bruxas. A trama se passa exatamente um ano após a morte do chefão da máfia Carmine "Romano" Falcone, em um Dia das Bruxas. A queda do "Império Romano" marcou o início do fim do domínio dos criminosos "comuns" em Gotham, e a ascensão das chamadas aberrações, os vilões fantasiados e lunáticos que infestaram a cidade logo após o surgimento do Cavaleiro das Trevas, e também colocou um ponto final nas ações do serial killer Feriado, o qual desencadeou uma onda de terror ao chacinar membros da máfia nos feriados ao longo de um ano inteiro. Apesar de terem desferido um duro golpe na organização criminosa mais poderosa da cidade, Batman e o então tenente James Gordon sofreram uma perda ainda maior: seu amigo e aliado no combate ao crime, o promotor público Harvey Dent, após ter metade do rosto e sua sanidade desfigurados por ácido se tornou o criminoso conhecido como Duas Caras.

O autor segue a mesma receita da série anterior, adicionando um novo elemento de suspense à trama: um assassino serial apelidado de Hangman (Enforcador), que também ataca nos feriados, só que desta vez as suas vítimas não não mafiosos, mas policiais do DPGC. O surgimento deste assassino se dá ao mesmo tempo em que a nova promotora pública Janice Porter consegue junto à justiça a soltura de Feriado, que passa a cumprir pena domiciliar, e da fuga do Duas Caras do Asilo Arkham. Enquanto isso, Sofia "Gigante" Falcone tenta manter unidos os pedaços do império de seu pai e inicia uma guerra sangrenta contra os fugitivos do manicômio pelo controle do crime em Gotham.


Uma Vítima do Enforcador de Gotham

O foco principal no autor continua sendo o trio Batman/Bruce Wayne, Comissário Gordon e Harvey Dent/Duas Caras, os quais têm de lidar cada um à sua maneira com as consequências dos eventos do final de O Longo Dia das Bruxas, que deixaram profundas marcas em cada um deles. Batman se torna cada vez mais sombrio e solitário, recusando-se a aceitar a ajuda de Gordon e da polícia, preferindo fazer as coisas do seu próprio jeito. O Comissário Gordon precisa então buscar aliados dentro da própria corporação que dirige, e monta um time tático composto por novatos para recapturar Duas Caras. Este último faz uma perigosa aliança com os piores elementos da cidade, como o Coringa, para conseguir derrubar o que resta do império do crime de Falcone.

Um personagem coadjuvante que acaba ganhando bastante destaque é Alfred Pennyworth, que deixa de ser um mero mordomo para assumir uma responsabilidade quase paternal para com o herói, ajudando-o a recuperar-se da crise psicológica decorrente da traição de Harvey Dent. Outra personagem que volta a dar as caras e influencia a vida de Bruce Wayne é Selina Kyle/Mulher Gato, cuja relação com o playboy milionário é prejudicada pela vida dupla de ambos e suas próprias buscas: é nesta história que começa a jornada de Selina em busca da verdadeira identidade de seu pai, a qual a dupla Loeb/Sale conclui na minissérie Cidade Eterna.

Batman e Mulher Gato

Tal como em O Longo Dia das Bruxas, na qual o autor inseriu em meio ao enredo um momento importante da mitologia do Morcego, no caso a gênese do vilão Duas Caras, Vitória Sombria repete a fórmula ao presentear o leitor com o nascimento da lenda do Robin, o "parceiro mirim" do Batman. Ao contrário da história anterior, no entanto, a presença de Robin traz novo ânimo e esperança para a missão do Batman, que aprende a lição de que é um erro tentar carregar sozinho o fardo de combater o crime em Gotham City e que precisa confiar mais em seus aliados.

O capítulo que mostra a morte dos pais de Dick Grayson e a mudança do rapaz para a mansão Wayne é sem dúvida o melhor desta Graphic Novel, com destaque para a maravilhosa arte de Tim Sale, o qual cria um paralelo entre a perda de Bruce Wayne e do jovem Dick Grayson numa belíssima cena composta por três painéis em que Alfred recorda o sofrimento de um pequeno Bruce logo após a morte dos pais, enquanto precisa lidar com uma situação semelhante com Dick. Ele faz uma poderosa metáfora visual ao mostrar os dois meninos, cada um numa época diferente, olhando-se num espelho e vendo um ao outro: a origem de ambos é a mesma, mas a forma como encaram a perda é que definirá que tipo de pessoa eles serão no futuro.

A Dupla Dinâmica

Embora apresente um roteiro complexo, com várias linhas narrativas paralelas, Jeph Loeb consegue manter a coesão da história, interligando as tramas individuais de forma gradativa e inteligente, sem cansar o leitor, rumo a um clímax grandioso, que com certeza entra para a história do cânone do Homem Morcego. A arte de Tim Sale colabora para tanto, casando perfeitamente com o estilo narrativo de Loeb. Esta Graphic Novel se encontra à venda em diversas lojas pelo Brasil num belíssimo encadernado de luxo com capa dura e quase 400 páginas, publicado pela Panini Comics.

Boa leitura!

Capa da Edição Americana de Vitória Sombria

domingo, 10 de julho de 2016

[RESENHA] Mulher Maravilha: Hiketeia


Muitas vezes cumprir a lei ao pé da letra pode levar a um dano muito pior do que não fazê-lo. Todos ouvimos desde criança que é errado matar; no entanto, imagine uma situação em que um bandido invade a sua casa e ameaça a sua vida ou de alguém que você ame: seria errado matar o ladrão, nestas circunstâncias? A lei ao pé da letra não leva nada em consideração a não ser o seu total cumprimento, para ela só existe preto e branco, certo e errado. Mas a lei não deve ser usada como um instrumento que escraviza o ser humano; dependendo da situação, a consciência humana pode nos levar a tomar uma decisão contrária à lei, e ainda assim ser uma decisão correta, uma vez que acarretaria menos dano. Este, de fato, é o "espírito" por trás das leis: evitar conflitos, e, consequentemente, dano à vida humana. De fato, a legislação já evoluiu o bastante para não permitir paradoxos como o do exemplo do bandido, mas as leis nunca conseguirão englobar todas as situações da vida humana e suas relações interpessoais, que estão em constante modificação. Sempre haverão debates, como o uso de substâncias proibidas por lei no tratamento de doenças degenerativas, ou a delicada questão do aborto ou da eutanásia. 

Mulher Maravilha: Hiketeia é uma HQ escrita por Greg Rucka, roteirista de longa data das histórias da heroína, com arte de J.G. Jones e Wade Von Grawbadger, que trata justamente deste dilema. De um lado temos Danielle Wellys, uma jovem que cometeu um crime de assassinato em Gotham City; de outro o Batman, que assume na trama a figura do agente cumpridor da lei, cuja missão é levar a jovem perante a justiça para que seja julgada e pague por seus atos. O que o Cavaleiro das Trevas não esperava, contudo, é que Danielle fosse procurar a embaixadora das amazonas no mundo do patriarcado e invocasse o juramento de Hiketeia:

O Juramento de Hiketeia

Diana Prince, a Mulher Maravilha, sem conhecer a história de Danielle, aceita a jovem como sua protegida, e ao fazer isso coloca seu destino nas mãos das Erínias, também conhecidas como Fúrias, aquelas três entidades femininas da mitologia greco-romana que são a personificação da vingança. Se Diana falhar em sua missão de proteger a moça, deverá pagar com a própria vida. Seu juramento a coloca em conflito direto com seu companheiro de Liga da Justiça, o Batman, o qual possui seu próprio juramento, feito diante do túmulo de seus pais, de acabar com o crime em Gotham.

As Erínias

Nesta história Rucka nos apresenta um outro lado da Mulher Maravilha que tem sido pouco explorado ao longo de sua trajetória nos quadrinhos; ao invés de ser retratada como uma guerreira, sempre sisuda e muitas vezes dada a atos de violência, aqui ela aparece de fato como a Embaixadora da Paz, tal qual ela fora inicialmente concebida na Era de Ouro dos quadrinhos, por William Moulton Marston. Vemos como é o dia a dia de Diana Prince trabalhando na ONU, mediando conflitos entre países, ajudando grupos humanitários e fazendo pronunciamentos.

O roteiro Greg Rucka consegue equilibrar perfeitamente elementos da mitologia grega, na qual o mito da própria Mulher Maravilha está fundamentado, com uma trama policial moderna. Além disso, sendo uma história da maior heroína dos quadrinhos, ele não poderia deixar de abordar questões que dizem respeito às mulheres, e o faz de maneira até madura demais para uma história em quadrinhos regular da DC. Já a arte de J. G. Jones e Von Grawbadger está excelente: sua Mulher Maravilha aparece altiva e imponente, mas também é retratada como uma mulher quase normal quando está em sua residência. Já o Batman é mostrado como uma figura sombria, com o corpo quase sempre oculto pelo manto negro, um verdadeiro vigilante das sombras.

A luta propriamente dita entre Diana e o Batman é a única coisa que deixa a desejar nesta história. Desde o início ficamos ansiosos para o embate, mas quando pensamos que ele vai começar ele já acaba. Rucka é bem sóbrio com relação à superioridade de poder da Mulher Maravilha em relação ao Cavaleiro das Trevas, que tenta derrotá-la usando mais a astúcia do que força. Mas desde o início, conforme a própria capa da HQ já entrega, ele não tem nenhuma chance contra a princesa das amazonas.

Hiketeia para mim é uma das melhores histórias da Mulher Maravilha, e sua leitura não exige nenhum conhecimento prévio das aventuras da Princesa Amazona. O roteiro é muito bem estruturado, a premissa de colocar dois heróis reverenciados pelos públicos em confronto um contra o outro não é original, porém é desenvolvida com inteligência, e o autor tem sucesso em nos revelar como a é a vida da Mulher Maravilha quando ela é Diana Prince, com fidelidade e respeito à essência humanitária da personagem, estabelecida por seus predecessores durante décadas de publicação. Bo leitura! 

Capa de Mulher Maravilha: Hiketeia

sexta-feira, 8 de julho de 2016

[RESENHA] Preacher #2: Até o Fim do Mundo


Após a enxurrada criativa do final dos anos 80, o mundo dos quadrinhos enfrentou uma baita ressaca nos anos seguintes. A década de 1990 foi a época dos roteiros mirabolantes, como o da famigerada Saga do Clone do Cabeça-de-Teia; da arte absurda que pretendia apresentar praticamente todos os personagens de quadrinhos como halterofilistas, espelhando o que acontecia no cinema, com a ascensão dos grandes heróis de ação como Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger e Jean Claude Van Damme. Na linha principal da DC Comics a tendência foi de destruir o mito da invencibilidade de seus maiores heróis. O  mundo ficou chocado quando soube da morte do Homem de Aço nas mãos de um novo vilão chamado Apocalypse. Quase ao mesmo tempo, foi a vez do Cavaleiro das Trevas sucumbir diante de um inimigo mais forte e mais inteligente. E quantos fãs não ficaram órfãos de seu grande herói quando o Guardião Esmeralda decidiu se tornar um vilão ao assumir a identidade de Parallax?

Em meio a todo este caos a Vertigo - divisão de histórias para adultos da DC - encontrou seu caminho para a ascensão ao empregar em suas fileiras roteiristas da escola britânica, como Neil Gaiman, Grant Morrison e Garth Ennis, os quais seguiram totalmente na contramão ao optar contar histórias ambientadas no mundo real, com personagens até certo ponto normais, que conheciam e viviam os mesmos problemas que os leitores. Tais histórias eram recheadas de elementos do gênero da fantasia, do sobrenatural e de horror urbano, e tinham menos restrições ao abordar temas como sexo, drogas e violência explícita. Uma das séries mais famosas e polêmicas que nasceram neste contexto foi Preacher, escrita pelo irreverente Garth Ennis e desenhada por Steve Dillon, e que causou um verdadeiro alvoroço ao trazer para suas páginas repletas de sangue, sexo, palavrões e personagens bizarros elementos considerados sagrados pela religião cristã, não poupando nem mesmo a Suprema Divindade. Esta série contou com 75 edições, incluindo especiais, e acabou de ser publicada aqui nas terras tupiniquins em um conjunto de 9 encadernados de luxo. Você pode conferir a resenha sobre a primeira edição clicando aqui. Neste texto irei resenhar sobre o segundo volume: Até o Fim do Mundo. Antes, porém, gostaria de fazer um pequeno resumo da história até aqui.

Em A Caminho do Texas, o primeiríssimo volume da coleção, foi visto que uma entidade sobrenatural chamada Gênesis, fruto da relação proibida entre um anjo e um demônio, se fundiu à alma do pastor texano Jesse Custer, conferindo a ele o dom da Palavra de Deus - o poder de obrigar qualquer pessoa a fazer qualquer coisa que ele ordenar. Enquanto foge do fodástico matador Santo dos Assassinos, na companhia de sua ex-namorada Tulipa e do engraçadíssimo vampiro irlandês Cassidy, Jesse acaba descobrindo o segredo que os anjos protegem a todo custo: Deus abandonou o Paraíso, e Seu paradeiro é desconhecido. Ele decide então ir atrás do Criador e obrigá-Lo a prestar contas por seu sumiço. A questão é que Deus não quer ser encontrado, e a insistência de Jesse irá fazer com que seu passado volte para assombrá-lo.

Marie L'Angelle

É justamente sobre isto que trata o segundo volume, intitulado Até o Fim do Mundo: o passado do reverendo Jesse Custer. O primeiro volume deixou muitas perguntas em aberto, como por que Jesse, sendo tão irreverente, violento e alcoólatra, veio a se tornar logo um pastor de igreja evangélica, bem como por que ele abandonou Tulipa sem mais nem menos para seguir este caminho. A resposta para todas estas perguntas se encontram no passado, antes mesmo dele nascer. Assim, somos levados, por meio de flashbacks muito bem construídos, até o momento em que seus pais, Christina L'Angelle e o ex-combatente da guerra do Vietnã John Custer, se conhecem; como foi sua feliz infância junto do casal; e como essa curta felicidade acabou no momento em que os capangas de sua avó, Marie D'Angelle, os encontraram e os obrigaram a ir morar em Angelville, a casa da família na Lousiana.

Marie D'Angelle é um daqueles vilões que rapidamente cativam o público pelo elevado grau de maldade que praticam. Ela é uma velha decrépita, incapaz de andar sem a ajuda de uma cadeira de rodas, e que sobrevive com a ajuda de aparelhos; porém sua maldade não tem limites, e rapidamente nos pegamos odiando-a e torcendo ferrenhamente para que seu fim esteja a altura de seus atos. Ela vem de uma família cristã puritana, cuja maior tradição é fazer com que todos os homens sigam o caminho do sacerdócio. A missão da vida de Marie é fazer Jesse voltar aos caminhos do Senhor, mas não vou estragar a experiência do leitor revelando as crueldades que ela perpetra ao protagonista para conseguir lograr êxito neste objetivo, essa é uma experiência que você precisa ter por si próprio. Fatalmente a jornada de Jesse acaba levando-o novamente a Angelville, para o acerto de contas final com a família de sua mãe. Mas se você pensa que desta vez a luta será fácil, devido a habilidade conferida por Gênesis, está terrivelmente enganado: Marie conta com um poderoso e imprevisto aliado, de modo que a Palavra de Deus é ineficaz contra ela e seus asseclas.

Jesse e Tulipa

Esta é uma história de independência, de um homem que precisa se libertar das imposições de sua família e tomar as rédeas do próprio destino. E também é, de certa forma, uma história de amor, pois é justamente o sentimento entre Custer e Tulipa que lhe dá motivação e forças para superar um inimigo aparentemente tão mais forte. Não preciso nem falar que Jesse finalmente consegue realizar seu segundo grande objetivo: levar Tulipa para a cama! E devo dizer que essa parte da história, quando os dois fazem as pazes, é bem melosa, mas felizmente os dois formam um casal bem carismático.

Este volume ainda conta com a primeira parte do arco do Graal, um organização ultra-secreta que há milênios é responsável por proteger a sagrada linhagem do Messias, e aqui mais uma vez vemos a irreverência do autor com temas considerados por muitos como sagrados. Nesta saga ele eleva o nível de sua criatividade para o bizarro ao máximo: o próprio vilão, Herr Starr, cujo visual ao estilo Sagat causa uma certa intimidação, já começa a história sendo enrabado por engano por um gigolô! Além disso, tem um tal de Jesus DeSade, um milionáriuo que promove festas hedonistas regadas de bebibas e drogas, onde todas as formas de sexo são liberadas (e incentivadas!), e que protagoniza uma cena absurda envolvendo um tatu.

A Festa de Jesus DeSade

Jesse e Tulipa reencontram Cassidy, que volta a acompanha-los em suas aventuras em definitivo, e resolvem ajudá-lo a vingar a morte de sua namorada, indo atrás dos bandidos que lhe forneceram as drogas que causaram a sua overdose; esses traficantes são os mesmos que tiraram a honra de Herr Starr, que decide ir atrás deles em busca de vingança, enquanto ao mesmo tempo está atrás de Jesse, a quem ele quer transformar no próximo Messias e assim chegar ao topo do Graal. E por fim Jesus DeSade quer a droga para sua orgia, a mesma que causou a morte da ex do Cassidy. Os caminhos de todos estes personagens convergem inevitavelmente para a festa de DeSade, a qual termina com muito sangue e corpos, e com Cassidy sendo levado por engano para a sede do Graal, na França. Neste confronto finalmente vemos a que veio Tulipa, que deixa seus companheiros masculinos no chinelo ao revelar todas as suas habilidades com armas de fogo.

Garth Ennis prova que continua sendo um roteirista excepcional; seu maior talento, na minha opinião, não está nos roteiros, muitas vezes simplistas, apelando descaradamente para artifícios toscos como coincidências explicar alguns fatos; seu grande talento se manifesta na elaboração de personagens autênticos e carismáticos, indo desde a bruxa má Marie D'Angelle até o controverso Starr, passando pelos pervertidos T.C. e DeSade e o maligno Jody. A arte de Dillon continua afiada e muito competente, embora às vezes pareça que alguns personagens tenham as mesmas feições. Não posso deixar de mencionar a arte das capas de Glenn Fabry, que são um espetáculo à parte.

Conforme já mencionado na resenha anterior, Preacher foi publicada pela Panini Comics em uma série de encadernados em capa dura com excelente qualidade, e pode ser adquirida nas principais lojas especializadas e comic shops do Brasil.

Boa leitura!

Capa de Preacher #2, por Glenn Fabry

sexta-feira, 1 de julho de 2016

[RESENHA] John Constantine, Hellblazer - Origens Volume 2: Triângulos Infernais



John Constantine é um homem atormentado. Esta é a primeira impressão que se tem ao começar a ler o segundo volume de Hellblazer Origens, um conjunto de 7 encadernados que conta com as primeiras edições do título sob a tutela do roteirista Jamie Delano. O mago trapaceiro da DC/Vertigo continua sua pendenga contra os fundamentalistas da Cruzada da Ressurreição - os Línguas da Fogo -, e os demônios e delinquentes liderados por Nergal. A razão do tormento de Constantine é o fato de que ele começa a perceber que todos que se aproximam dele acabam morrendo ou encontrando um destino ainda pior. Apesar de tentar manter a aparência inabalável e até lidar com as piores situações com uma boa dose de humor, a culpa o corrói por dentro, a tal ponto que sua sanidade começa a se despedaçar. Nos questionamos se os fantasmas dos amigos mortos que ele vê não seriam apenas uma parte do seu subconsciente materializando este sentimento de culpa, através de uma forma que ele consiga entender. Tal afirmação fica ainda mais evidente quando o vemos ser perseguido por um fantasma que tem a aparência de quando ele estava bem, encorajando-o a sair da fossa.

Constantine é Assombrado por Si Memso

Se você pensa que não há como afundar mais, Constantine consegue descer mais fundo ao fazer um pacto com o demônio Nergal para impedir os Línguas de Fogo de trazerem ao mundo o seu próprio Messias, só que para isso ele precisará trair novamente uma pessoa que ama, e ainda permitir que o sangue do demônio corra em suas veias. Ele não permite, contudo, que Nergal saia vitorioso, e consegue ludibriá-lo ao fazer a profecia dos cruzados se cumprir com o Monstro do Pântano e Abby Cable.

Este volume também apresenta o primeiro crossover entre duas revistas da Vertigo: Hellblazer e Monstro do Pântano, agora capitaneada por Rick Veith e Alfredo Alcala, os quais já haviam trabalhado com Alan Moore em sua brilhante fase na revista do Musgoso. Como acontece com a maioria das tramas compartilhadas por diferentes títulos, o leitor encontra dificuldade em acompanhar todo o desenvolvimento da história; são várias idas e vindas dos Estados Unidos e menções vagas aos Elementais - sem contar a cronologia confusa dos eventos - que, para quem não acompanha a revista do Monstro do Pântano o entendimento do plano de Constantine não é completo, e fica a sensação de estar deixando algo passar. E é exatamente por isso que resolvi fazer uma breve explanação sobre o que estava acontecendo na revista do Monstro do Pântano até então, e de que forma estes acontecimentos se relacionam com a trama de Delano.

Constantine Recebe o Sangue de Nergal

Após a suposta morte do Monstro do Pântano na parte final da grandiosa saga criada por Alan Moore, o Parlamento das Árvores começa a providenciar um substituto; porém o Elemental retorna de suas aventuras no espaço, e decide se retirar para os pântanos com sua "esposa" Abby. Como não podem ter dois elementais da Terra, o Monstro do Pântano é convocado pelo Parlamento e eles lhe dão duas opções: ou se junta a eles na Amazônia ou destrói o "Broto", que é o embrião do próximo Elemental. Mas a criatura se recusa a ser um assassino, e tampouco está disposto a abandonar a vida com Abby na Lousiana, e sua teimosia faz com que a Natureza comece a entrar em colapso. Após diversas encarnações malsucedidas do Broto (incluindo uma tentativa de possuir o corpo de Solomon Grundy), o Monstro do Pântano encontra a solução perfeita para seus dois problemas: a evolução do Broto e a tão sonhada paternidade, e é aí que Constanitne entra na história. A criatura só não contava que o mago tivesse tido a mesma ideia...

Em L'Adoration de la Terre o Monstro do Pântano possui o corpo de John Constantine, expulsando seu espírito para a dimensão astral, e com isso consegue acasalar com Abby e depositar nela sua "semente". Particularmente gosto de ver o humor do mago ao lidar com a Criatura dos Pântanos: em um determinado momento ele enrola um cigarro usando como fumo a erva que reveste o corpo do Monstro; em outro, vemos ele estragar o momento romântico da criatura com Abby ao voltar para seu corpo antes da hora. Se a mulher já não gostava do canalha, agora menos ainda; mas os dois acabam fazendo as pazes, ou pelo menos formando uma trégua em Triângulos Infernais, que empresta o título ao volume, justamente por lidar com essa espécie de "triângulo amoroso" que se forma entre J.C., Abby e o Monstro do Pântano.

O Monstro do Pântano e Abby Acasalam

O enredo de Delano continua afiado, porém acaba sofrendo com a decisão editorial de realizar o crossover de Hellblazer com Monstro do Pântano, culminando num adiamento da conclusão da saga iniciada no volume anterior. Quanto à arte de John Ridgway, que se despede do título na edição 9, há pouco do que se falar: seu desenho não é bonito, mas consegue transmitir com eficiência o clima sobrenatural e a decadência humana das histórias de Delano.

DICA DE LEITURA: Excelente enredo, arte não tão boa assim, mas vale a pena ler para conhecer as primeiras histórias do anti-herói mais querido da DC/Vertigo. História publicada pela Panini Books, um encadernado em capa cartão e papel pisa britte.

Capa de Hellblazer Origens Vol. 2