quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

[RESENHA] Preacher #4: Histórias Antigas



O quarto volume de Preacher, série visceral de autoria de Garth Ennis e Steve Dillon, que narra as aventuras do pastor Jesse Custer em sua busca nada convencional pelo Divino, dá uma pausa na trama principal para apresentar as histórias de origem de dois importantes personagens da saga: o Santo dos Assassinos e o Cara de Cu. A história do Santo se prova importante pelos eventos que ocorrem nos próximos volumes da saga, porém a do Cara de Cu serve apenas para saciar a curiosidade dos leitores e, de quebra, vender mais revistas. Para finalizar, este encadernado ainda conta com uma aventura solo de Jody e T.C. - os canalhas responsáveis pela criação de Jesse em Angelville -, e esta é ainda mais dispensável que a anterior.

Mas o que realmente mais desanima neste volume é a arte, devido à total ausência de Steve Dillon, cujos desenhos já são a marca registrada da série. Estes três especiais contam com a participação dos artistas convidados Steve Pugh, Carlos Ezquerra e Richard Case; em todos eles a arte é nada mais do que competente, e não deixa a desejar, porém ler Preacher sem os desenhos de Steve Dillon não é a mesma coisa.

No especial O Santo dos Assassinos, Garth Ennis declara todo o seu amor pelo gênero do Western, ao finalmente poder contar uma história que se passa no tempo das diligências. Embora irlandês, o autor cresceu vendo filmes de faroeste, e a série Preacher é repleta de referências a este tão famoso estilo, como por exemplo a figura de John Wayne, uma espécie de amigo imaginário de Jesse que age como um tipo de conselheiro para o reverendo. Para quem não sabe, John Wayne, também conhecido como o Duque, foi um reverenciado ator que protagonizou diversos filmes de faroeste, dentre eles Bravura Indômita, Rio Vermelho e Os Comancheros.

O Santo dos Assassinos

A história do Santo, contudo, não acrescenta quase nada ao gênero, sendo, por outro lado, um grande clichê: tem o matador sem coração que encontra o verdadeiro amor; a gangue de malfeitores liderada por um bandido vil e sem escrúpulos; a pacata cidade que acaba se tornando palco de um banho de sangue. O que diferencia esta história das demais é justamente o fator sobrenatural: quando morre, o assassino faz um pacto com o Anjo da Morte para dar cabo de sua vingança contra aqueles que o prejudicaram.

A História de Você-Sabe-Quem mostra a motivação para a tentativa de suicídio fracassada que fez com que o adolescente Eugene Root conseguisse as grotescas cicatrizes que lhe garantiram a famosa alcunha de Cara de Cu. É aquela conhecida história do adolescente que se sente incompreendido, que sofre nas mãos de um pai violento e uma mãe ausente, e na escola ainda tem que lidar com buyling. Todas essas desventuras - as quais a maioria de nós, nascidos nas décadas de 80 e 90, já passamos - faz com que o jovem tome uma decisão errada que irá afetar toda sua vida.

Garth Ennis usa este roteiro para tratar sobre a influência que os ídolos modernos exercem sobre seus fãs, tanto através de sua música como principalmente através de seu comportamento. As referências ao Nirvana e seu vocalista Kurt Cobain, que cometeu suicídio em 1994, estão por toda parte. O autor voltaria a abordar este tema mais para a frente, no arco do Cara de Cu da série regular. Embora seja um personagem predominantemente de alívio cômico na série regular, este especial sobre o Cara de Cu possui uma pesada carga dramática ao abordar a questão do suicídio entre jovens.


Eugene Root, Antes de se Tornar o Cara de Cu

Por último, Os Bons Camaradas nos mostra a dupla Jody e T.C. cruzando o caminho de um policial e uma advogada que estão fugindo de uma gangue. A trama segue o velho clichê dos filmes de ação dos anos 90, porém temperada com cenas de violência explícita e o humor negro de Garth Ennis. Vale a leitura apenas como diversão, mas não acrescenta em nada à história original.

Então é isso, meninos e meninas. Espero que tenham gostado desta resenha, nos vemos por aqui numa próxima postagem. Lembrando que Preacher Vol. 4 foi publicado no Brasil em capa dura pela Panini Books. Boa leitura!

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