Quem acompanha a revista Hellblazer desde a fase capitaneada por Jamie Delano até as primeiras edições da fase Garth Ennis já percebeu que a vida de John Constantine não é um mar de rosas; na verdade, dizer isto seria até generosidade demais: a verdade é que a vida de John Constantine é uma m&rd@! Todos aqueles que se consideram seus amigos acabam morrendo, as mulheres que ele namora ou encontram o mesmo fim ou o abandonam, e toda vez que ele pensa que vai sossegar e viver o resto de sua vida em paz, alguma assombração, demônio ou entidade sobrenatural aparece para virar sua vida de ponta cabeça. Mas agora as coisas parecem finalmente estar se acertando. Ele se livrou de um câncer de pulmão, colocou o Primeiro dos Caídos em cheque-mate e de quebra ganhou o coração da bela irlandesa Kit Ryan. Pelo menos por algumas edições, Constantine está feliz.
Na trama principal deste encadernado - o segundo volume da coleção da Panini Comics que compila toda a fase de Garth Ennis à frente da revista Hellbalzer - um importante membro da família real britânica é possuído por um demônio chamado Calibraxis, e começa a assassinar pessoas aleatoriamente e de forma brutal. Por razões legais óbvias, em nenhum momento o nome do personagem é revelado, mas pelas pistas deixadas pelo autor trata-se do príncipe Charles. Para quem não vive no Reino Unido ou não é fã de carteirinha da prole da Rainha Elisabeth II, fica meio difícil pescar as referências, porém com um pouco de pesquisa dá para entender algumas coisas (segue aqui um pequeno guia da realeza londrina). Constantine é então chamado para resolver o caso e salvar a imagem do distinto príncipe, mas é claro que ele irá resolver tudo nos seus termos.
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O Príncipe Possuído |
Durante a investigação, Constantine acaba descobrindo uma informação chocante: o demônio que possuiu o príncipe é o mesmo que, um século atrás, deixou um rastro de sangue pela velha Londres ao possuir o corpo do assassino conhecido como Jack, o Estripador. A maioria das críticas na Internet sobre esta história a colocam em um patamar inferior aos outros arcos de Garth Ennis, e o principal motivo foi o autor dar uma versão simplista para a história do assassino serial mais famoso do mundo, principalmente se comparada à obra consagrada de Allan Moore sobre o tema, Do Inferno. Em primeiro lugar, é até covardia querer comparar uma história de Garth Ennis com um enredo escrito pelo mago dos quadrinhos, já que o estilo de ambos é muito diferente. Em segundo lugar, a referência a Jack, o Estripador é feita apenas para fisgar a atenção do leitor e nada mais; não tem nenhuma importância real para a trama, e se fosse omitida da história faria muito pouca diferença no resultado final. O único objetivo de Sangue Real é achincalhar com os governantes do Reino Unido, e por meio disso fazer uma crítica social. Isto o irlandês faz muito bem.
Deixando de lado as polêmicas, esta não é a melhor história de Garth Ennis, mas também não é a pior. Seu enredo é mediano, a conclusão do arco segue a mesma linha das histórias do maior mago e vigarista do mundo, com ele resolvendo o caso utilizando mais astúcia do que magia propriamente dita. Já a explicação das circunstâncias da possessão do príncipe e as motivações do verdadeiro vilão da história deixaram um pouco a desejar.
Esta obra possui alguns marcos dignos de nota. Foi nela que Constantine e Kit Ryan começaram a morar juntos, sob a condição de que J. C. não a envolveria em seus problemas místicos (alguém aqui ainda acha que isso não vai acontecer?). O personagem Nigel Archer, um jornalista revolucionário de esquerda com poderes sobrenaturais e que constantemente se envolve nas tramas de Constantine, é introduzido neste arco. E na edição #52 o ilustrador Glenn Fabry fez a sua estreia desenhando as capas de Hellblazer, numa relação que perdurou por dezenas de edições.
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Capa da Edição #52, por Glenn Fabry |
Se a trama principal não agrada a todos os gostos, uma coisa é incontestável: é nas histórias curtas que este encadernado realmente brilha. Logo na primeira edição somos apresentados ao "Senhor da Dança", o espírito (irlandês, é claro) da farra. Ele está deprimido porque acredita que desde a chegada do cristianismo os homens pararam comemorar sua data (por acaso, o Natal) como antes, em meio a banquetes, danças, surubas, etc, mas Constantine mostra para ele que nem tudo está perdido, e que o espírito irlandês ainda está muito vivo em alguns lugares. Foi nesta edição que o desenhista Steve Dillon fez sua estreia em Hellblazer.
A edição seguinte é talvez a melhor deste volume. Nela somos apresentados ao Rei dos Vampiros, que pretende transformar Constantine num bebedor de sangue. Ela é a melhor história deste encadernado simplesmente pela sua conclusão, bem a la Constantine, que pode ser comparada à conclusão do arco Hábitos Perigosos, já que ele derrota o Rei dos Vampiros utilizando toda sua malandragem e astúcia, escapando ileso de ser devorado vivo por um bando de mortos-vivos. E possível notar que Garth Ennis faz algumas referências à Brigada dos Encapotados, um grupo de magos e ocultistas que se reune pela primeira vez na HQ Os Livros da Magia, escrita por Neil Gayman em 1991.
A edição seguinte é talvez a melhor deste volume. Nela somos apresentados ao Rei dos Vampiros, que pretende transformar Constantine num bebedor de sangue. Ela é a melhor história deste encadernado simplesmente pela sua conclusão, bem a la Constantine, que pode ser comparada à conclusão do arco Hábitos Perigosos, já que ele derrota o Rei dos Vampiros utilizando toda sua malandragem e astúcia, escapando ileso de ser devorado vivo por um bando de mortos-vivos. E possível notar que Garth Ennis faz algumas referências à Brigada dos Encapotados, um grupo de magos e ocultistas que se reune pela primeira vez na HQ Os Livros da Magia, escrita por Neil Gayman em 1991.
A terceira e última edição curta é Conte até 10, uma espécie de horror psicológico protagonizado por Constantine, e que se passa dentro de uma lavanderia à noite. Esta edição foi escrita por um tal de John Smith, um pseudônimo bastante comum utilizado por escritores ingleses que não querem ser reconhecidos em determinada obra, e se passa em um período não definido da cronologia do anti-herói. Em suma, é uma história tapa buraco.
John Constantine, Hellblazer - Infernal Volume 2 reúne as edições #49 a #55 da revista Hellblazer, publicadas nos EUA em 1992, em um encadernado com capa cartão e papel LWC, com roteiros de Garth Ennis e John Smith, e desenhos de William Simpson, Sean Philips e Steve Dillon.
Espero que tenham gostado desta resenha. Para acessar minhas análises dos outros volumes, clique aqui. Boa leitura!
John Constantine, Hellblazer - Infernal Volume 2 reúne as edições #49 a #55 da revista Hellblazer, publicadas nos EUA em 1992, em um encadernado com capa cartão e papel LWC, com roteiros de Garth Ennis e John Smith, e desenhos de William Simpson, Sean Philips e Steve Dillon.
Espero que tenham gostado desta resenha. Para acessar minhas análises dos outros volumes, clique aqui. Boa leitura!
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Capa de Hellblazer - Infernal Vol. 2 |