quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Filmes Animados do Batman que Todo Fã Deve Assistir!


Embora ultimamente a DC/Warner tenha divido a opinião dos fãs com filmes massacrados pela crítica especializada, há muito tempo que sua divisão de animação tem proporcionado produções de qualidade inquestionável. Sendo o carro-chefe da editora, o Batman é o herói que mais ganhou animações até agora, e eu separei uma lista de 5 filmes animados que todo fã do Cruzado de Capa deve assistir.

5) Batman: Gotham Knight



Esta animação de 2008, produzida em parceria com o Studio 4ºC (o mesmo do filme Animatrix), reúne 6 curtas animados no melhor estilo dos animes japoneses, e seu enredo se passa no mesmo universo dos filmes da trilogia de Christopher Nolan, mais precisamente entre Batman Begins e The Dark Knight. Cada uma das histórias possui um enredo próprio, e foi escrita por um roteirista diferente, assim como o traço do desenho, que varia em cada curta. Embora as histórias não apresentem nada demais, no quesito técnico este é um dos melhores filmes animados do Cavaleiro das Trevas, principalmente devido ao estilo de animação japonês, muito mais dinâmico que o estilo ocidental, e que garantiu que esta produção tivesse um lugar de destaque nesta lista.

4) Batman: The Dark Knight Returns Part 1


Uma das melhores decisões da Warner Bros. Animation foi ter levado para as telinhas a Graphic Novel mais consagrada do Batman: O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller. A adaptação foi dividida em 2 filmes, e o primeiro foi lançado em 2012 direto para DVD. Ele adaptou o primeiro arco da HQ, que mostra um Bruce Wayne cinquentão saindo de sua aposentadoria e voltando a atuar como o Cavaleiro das Trevas. Esta obra é repleta de momentos épicos, como a sequência em que o Batman sai em sua primeira ronda, a reação de um policial mais velho ao ver o antigo vigilante de volta à ação, a loucura do Duas Caras atingindo um novo patamar e, principalmente, a luta do Batman contra o líder da gangue mutante em um lamaçal. "Isto não é uma poça de lama, é uma mesa de operação, e eu sou o cirurgião!"  Apesar da qualidade inigualável do roteiro, a parte técnica da animação deixou um pouco a desejar. Embora não tenha nenhum defeito gritante, a importância desta obra pedia uma produção mais sofisticada. Às vezes se têm a impressão de que os personagens estão se deslocando em uma cidade completamente vazia e estática, e esta é uma característica sistêmica das animações da Warner.

3) Batman: Under The Red Hood


Outra animação que adaptou um arco famoso dos quadrinhos, ou melhor, dois arcos. Nesta produção do talentoso Bruce Timm lançada em 2010, vemos uma versão adaptada da morte do segundo Robin, Jason Todd, pelas mãos do Coringa, e depois o seu retorno do mundo dos mortos como o criminoso e anti-herói Capuz Vermelho. Jason possui uma espécie de moral distorcida, em que ele pretende livrar a cidade do crime ao se tornar o líder absoluto das quadrilhas criminosas, e para isso ele incia uma guerra contra o mafioso Máscara Negra. Em paralelo a estes eventos, ele também busca vingança contra o antigo mentor, pelo fato do Batman não ter vingado sua morte e ter permitido o Coringa viver. 

Esta animação é uma das mais impecáveis tecnicamente, e seu único defeito é o traço usado nos personagens; a versão do Coringa neste filme é uma das mais bizarras já adotadas nas animações da DC. No entanto, este defeito não diminui o resultado final do filme, que só não ocupou a segunda posição porque ela foi ocupada por outra adaptação de uma obra clássica dos quadrinhos...

2) Batman: Ano Um



Adaptação fiel da aclamada HQ escrita por Frank Miller e David Mazuchelli, este filme de 2011 mostra o primeiro ano de Bruce Wayne como Batman, e o início de sua parceira com o então detetive James Gordon. Esta é uma produção de alta qualidade técnica, e um dos melhores filmes da Warner Bros. Animations. Um dos pontos positivos mais importantes sobre esta produção é a fidelidade ao material fonte, até nas partes mais polêmicas, como a Mulher Gato ser retratada como uma prostituta.


1) Batman: The Dark Knight Returns Part 2


O primeiro lugar desta lista não poderia pertencer a outro filme. Os defeitos técnicos da segunda parte de O Cavaleiro das Trevas, já detalhados no item 4, não poderiam ofuscar a qualidade desta história, que tem seu clímax na batalha definitiva entre o Superman e o Batman. Com uma história tão incrível como esta, é impressionante que Zack Snyder tenha conseguido fazer uma cagada como aquela vista em Batman vs Superman! Para alegria dos fãs, ainda temos podemos ver nas telinhas a verdadeira luta entre os dois maiores heróis do mundo, da forma exata como Frank Miller a concebeu. Além disso, este filme ainda mostra o retorno do Coringa, e a derradeira e sangrenta luta entre o Batman e seu maior algoz. Assim como Ano Um, os roteirista foram bastante fiéis ao material fonte, inclusive nas parte mais datadas da história, que são aquelas que fazem referência à Guerra Fria.

Então é isso, p-p-pessoal, espero que tenham gostado da minha lista, e que eu os tenha inspirado a assistir (ou reassistir) a alguns destes filmes, que eu considero indispensáveis para aqueles que são fãs do Homem Morcego. Até mais!

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Batman | A Série Animada


Aproveitando a onda do Batman Day, que neste ano de 2017 tem como objetivo celebrar o 25º aniversário da Arlequina, nada mais justo do que falar sobre a animação que revelou a Princesa do Crime: a série animada do Batman. Depois do filme Batman, do Tim Burton, foi este desenho animado que me atraiu para o fantástico universo do Homem Morcego, antes mesmo de ter lido minha primeira HQ do Batman.

Produzida por Bruce Timm, esta série animada foi ao ar nos EUA entre os anos 1992 e 1995, e fez parte da infância de muitas crianças da década de 90, inclusive a deste que vos escreve. Mas não eram só as crianças que curtiam assistir Batman: The Animated Series: o objetivo deste desenho era alcançar diversas faixas etárias, e para isso assumiu um tom muito mais sombrio do que os desenhos convencionais da época (não estou considerando aqui os animes japoneses).

O Batman 

A série possui um visual único, inspirado principalmente nos filmes de Tim Burton. Gotham City é retratada como uma cidade atemporal, onde se misturam objetos claramente pertencentes à época da produção e outros típicos da década de 40, como carros antigos e dirigíveis, além do vestuário retrô. Outro aspecto interessante é o clima noir sempre presente na produção, no qual se destaca o lado mais detetivesco do herói.

Os fãs dos quadrinhos do Cavaleiro das Trevas também não poderiam se sentir mais representados, pois a série animada adaptou diversos arcos famosos da trajetória do personagem nos quadrinhos, como pode ser visto nos episódios The Demon Quest, Legends of The Dark Knight e The Laughing Fish. Muitos episódios tiveram roteiros escritos por Paul Dini, uma verdadeira lenda dentro da Warner Bros Animations, e que também assina várias histórias em quadrinhos do Batman.

A dublagem da produção também é outro quesito que merece nota, já que, tanto na versão norte-americana, com Kevin Conroy interpretando Bruce Wayne/Batman e Mark Hamill arrasando na voz do Coringa, como na versão dublada para o português, com o Márcio Seixas entregando a voz definitiva do Homem Morcego.

Coringa e Arlequina

Batman TAS foi adaptado para os quadrinhos em uma série própria, e além de render algums filmes, como Batman: A Máscara do Fantasma - que adaptou parte da obra clássica de Frank Miller, Batman: Ano Um - e Batman & Mr. Freeze: Sub Zero, que mostrou a origem do Senhor Frio, retratando-o como um vilão amargurado.

O sucesso desta animação foi tamanho que ela venceu quatro premiações Emmy, sendo a principal delas o Outstanding Animated Program em 1993 pelo episódio Robin's Reckoning Part 1, que mostra parceiro mirim do Batman em uma jornada para se vingar do assassino de seus pais. Este é um dos episódios mais memoráveis da série, justamente pelo tom mais maduro do enredo, e por narrar a origem do primeiro Robin, Dick Grayson.

Robin 

Um dos maiores legados desse desenho é a crianção da Arlequina. Criada despretensiosamente por Paul Dini e Bruce Timm como uma parceira criminosa do Coringa, uma contraparte vilanesca do Robin, ela foi um sucesso instantâneo e não demorou muito para ser transportada para os quadrinhos - num dos raros casos em que um personagem faz o caminho inverso da TV para a nona arte. Atualmente sua fama alcançou enormes proporções graças à sua participação no filme Esquadrão Suicida, interpretada por Margot Robie. Aliás, só para constar, a Arlequina é uma das poucas coisas que salva neste filme horrível. 

Para quem quer conhecer melhor esta personagem, uma ótima pedida é assistir ao episódio Mad Love, que faz parte da The New Batman Adventures Series, e que adaptou a famosa Graphic Novel de Paul Dini que conta como a psiquiatra Harleen Quinzel se apaixonou por seu paciente, o Coringa, e foi completamente corrompida por ele, tornando-se a vilã Arlequina. 

Para terminar esta postagem, vou sugerir 10 episódios, que eu considero os melhores da Série Animada do Batman, para o leitor assistir neste Batman Day:

1) Duas Caras, Partes 1 e 2
A origem do vilão Duas Caras. 

2) A Busca do Demônio, Partes 1 e 2
Batman se une ao misterioso homem chamado Ra's Al Ghul para resgatar o Robin e a bela Tália Al Ghul.

3) Batman Está no Meu Porão
Ferido, o Batman é protegido do Pinguim e seus capangas por duas crianças que sofriam buyling.

4)Identidade Dupla
Arnold Wesker, o Ventríloquo, é liberado do Asilo Arkham, mas seus antigos capangas não irão deixá-lo em paz por muito tempo, e o tentarão a utilizar novamente o boneco Scarface.

5) Uma Bala para Bullock
Batman precisa proteger o rabugento ajudante do Comissário Gordon da vingança de um criminoso.

6) Dor de Crescimento
Robin tenta proteger uma menina de um homem que a persegue, que acaba se revelando o Cara de Barro. Mas qual a verdadeira relação da menina com o monstruoso vilão?

7) Casa e Jardim
A Hera Venenosa aparentemente se regenerou, casou-se e agora cria duas crianças, mas algo parece errado nesta família aparentemente perfeita?

8) Histórias do Cavaleiro da Noite
Alguns jovens contam várias histórias sobre o Batman. Cada uma dessas histórias adapta algum quadrinho famoso do personagem, sendo o principal deles O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller.

9) O Ajuste de Contas do Robin, Partes 1 e 2
Dick Grayson decide se vingar do criminoso que matou seus pais. Este episódio também mostra a origem do Robin (flashback). 

10) A Beira do Abismo
Após uma luta contra o Espantalho, A Batgirl supostamente morre e o Comissário Gordon, ressentido, emprega todos os seus recursos para capturar o Batman, a quem culpa pela morte da filha.

Fique abaixo com o trailer de abertura da série animada, só para aumentar a nostalgia! Feliz Batman Day!


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Quadrinhos em Série | Arrow



Há várias séries baseadas em personagens de quadrinhos disponíveis atualmente nas mais diversas plataformas, mas será que vale a pena assistir a todas elas? Este post inicia um um guia sobre as principais séries de super heróis sendo exibidas atualmente, com algumas informações para ajudar o leitor a decidir qual acompanhar, baseado em minha opinião pessoal. Justamente por isso somente falarei das séries que já assisti a pelo menos uma temporada completa.

A primeira série que irei avaliar é Arrow, já que ela foi a primeira série a explorar o rico multiverso da DC Comics na televisão desde que os filmes de heróis se tornaram uma moda. Produzida por Greg Berlanti ("Greg move your head!"), Mark Guggenheim e Andrew Kreisberg, a série protagonizada por Stephen Amell foi ao ar pelo canal The CW em 2012. Aqui no Brasil ela é exibida pelo canal pago Warner Channel, pelo SBT com o nome Arqueiro, e também consta no catálogo da Netflix.

1. Informações Sobre a Série


A primeira temporada de Arrow adaptou a origem do herói conhecido como Arqueiro Verde, alter-ego de Oliver Queen (Amell), playboy bilionário e mulherengo herdeiro de uma poderosa corporação industrial. Após sobreviver ao naufrágio de seu iate, Oliver ficou perdido na misteriosa ilha chamada Lian Yu por 5 anos. Após ser resgatado, ele retorna para Starlig City de posse de uma lista de nomes de supostos criminosos e corruptos, e decide caçá-los utilizando as habilidades de arquearia que ele aprendeu com um misterioso homem enquanto estava na ilha.

Com cada temporada contando com 23 episódios, a trama principal não é desenvolvida em todos eles, de modo que os espaços vazios são preenchidos pelo chamado "vilão da semana", aproximando a série do modelo procedural das séries policiais comuns. Além disso, a produção também usa o famoso esquema já explorado à exaustão em Lost, de intercalar momentos do presente com flashbacks de eventos ocorridos no tempo em que Oliver estava preso na ilha. Apesar de manjado, este modelo funcionou bem enquanto os eventos dos flashbacks possuíam relação com os do presente

Sendo uma série com classificação etária livre, Arrow foi feita para ser uma série para a família toda, o que é uma característica das produções do canal The CW.  Assim, ela é recheada de dramas pessoais e familiares, o que não necessariamente transforma a série em um dramalhão, mas abre as portas para explorar um lado mais pessoal de seus personagens.

2. Pontos Positivos


Manu Bennett como Exterminador

Nas duas primeiras temporadas tivemos uma visão mais pé no chão e realista do Arqueiro Verde, bastante inspirada ns fases de Mike Grell e de Andy Diggle com o personagem nos quadrinhos, bem como a trilogia de filmes do Batman dirigida por Christopher Nolan, o que agradou bastante aos fãs. Ele não agia ainda como um herói propriamente dito, mas como um vigilante procurado pela polícia e apelidado pela mídia como "o Capuz". A evolução do nome do personagem até ele se tornar o Arqueiro Verde que conhecemos acompanha sua jornada como herói, e essa jormada levou algumas temporadas para ser concluída.

Outro aspecto importante do início da carreira do Oliver como vigilante é que ele não usava as famosas flechas especiais, apenas as flechas comuns - simples, porém letais -, o que o tornava um criminoso aos olhos da polícia. Seu principal antagonista na corporação era o detetive Quentin Lance (Paul Blackthorne), o qual também tinha uma rixa pessoal contra Oliver Queen, já que uma de suas filhas, Sara Lance (Caity Lotz), havia morrido no naufrágio do iate de Oliver, com quem ela tinha um affair. O pior dessa história toda é que na época Oliver namorava Laurel (Katie Cassidy), a outra filha de Quentin.

A série foca bastante no lado humano de Oliver, através de suas relações com sua família, amigos e com a própria cidade. Ele evolui como personagem ao longo das temporadas, deixando aos poucos de ser um vigilante solitário para aceitar a ajuda de outros em sua cruzada, como o ex-militar, guarda-costas e melhor amigo John Diggle (David Ramsey) e a especialista em informática Felicity Smoak (Emily Brett Rickards). Uma consequência natural disso é que aos poucos ele vai deixando de lado seus métodos letais para agir mais como um super herói, e com isso ganhando a confiança da cidade e da polícia.

O Team Arrow

Mas a melhor coisa em Arrow são seus vilões. A série foi a principal responsável pela popularização do Exterminador, brilhantemente interpretado por Manu Bennet, que nos entregou um vilão realmente ameaçador. Sua origem está diretamente ligada ao tempo em que Oliver ficou em Liam Yu, e a série aproveita muito bem o recurso dos flashbacks para explicar as motivações do vilãoOutro adversário que impressionou foi Prometheus (Josh Segarra), o vilão da quinta temporada. Segarra rapidamente conquistou os fãs com um vilão totalmente psicótico, capaz de sacrificar a própria esposa para atingir o Arqueiro.

Por fim, é preciso destacar o fato de que Arrow foi o pontapé inicial para um universo - ou melhor, multiverso - compartilhado de heróis e vilões da DC nas séries de TV. Após o sucesso da série tivemos o lançamento de Flash, Legends of Tomorrow e Supergirl. Diversos personagens importantes da editora já apareceram neste multiverso: Superman, Caçador de Marte, Nuclear, Eléktron, Flash Reverso, Gorila Grodd, Ra's al Ghul, Vixen, Constantine, dentre outros.


Crossover entre Arrow, Flash, Legends of Tomorrow e Supergirl


3. Pontos Negativos


A partir da mid season finale da terceira temporada Arrow teve uma expressiva queda de qualidade. Um dos motivos para isso foi a insistência dos roteiristas em forçar um romance entre Oliver e Felicity. Minha resistência a este romance não se deve apenas ao fato dele ignorar um dos aspectos mais clássicos do personagem, que é sua relação amorosa com a Canário Negro, mas também porque este romance trouxe uma carga dramática desnecessária para a série, digna de uma novela mexicana. A personagem de Emily Brett Rickards, sempre muito carismática por causa de seu humor, se tornou uma chorona melodramática insuportavelmente chata.

Além do "Olicity", tivemos também um desgaste do formato da série: se por um lado os flashbacks se tornaram desnecessários quando deixaram de ter relevância para os eventos da trama principal, sendo exibidos mais como uma obrigação, por outro a velha receita, repetida desde a primeira temporada, do vilão que ameaça a destruir a cidade de Oliver - seja com terremoto, supersoldados assassinos, bomba biológica ou atômica - tornou a série extremamente previsível e repetitiva.

Matt Nable como Ra's al Ghul

Mas o que mais incomodou os fãs foi a apelação dos roteiristas em transformar o Arqueiro Verde em uma cópia do Batman. Não apenas alguns traços da personalidade de Bruce Wayne foram reproduzidos pelo Arqueiro Verde, como alguns arcos da HQ e até mesmo vilões, como Ra's al Ghul e a Liga dos Assassinos, o Vagalume, o Dollmaker, o Pistoleiro e a Caçadora. Com isso, o Arqueiro Verde que vimos na TV acabou perdendo muito das características de sua contraparte dos quadrinhos - humor ácido e um seu forte senso social e político - para dar lugar a uma versão mais sombria, sisuda e amargurada do herói, características marcantes do Homem Morcego.

Finalmente, preciso falar sobre um aspecto que não é necessariamente um defeito, mas também incomodou alguns fãs. A ampliação do team Arrow, bem como a introdução dos metahumanos, se por um lado abriram as portas para vários acontecimento legais dos quadrinhos e propiciaram o surgimento do Arrowverse, por outro tornaram os roteiros mais cômicos, distanciando a série da sua pegada original, mais realista. Qualquer um com uma fantasia de couro e conhecimento mínimo de karatê pode se tornar um vigilante e lutar contra bandidos de verdade, fortemente armados. Enquanto levou um certo tempo e muito treinamento para Roy Harper (Colton Haynes) se tornar o Arsenal, bastou que Laurel treinasse boxe e vestisse uma fantasia apertada de couro para se tornar a Canário Negro, isso porque nem quis falar sobre o Mad Dog ou o "Senhor Incrível".

Laurel como Canário Negro


4. Conclusão

 

Apesar de seus defeitos, ainda vale à pena assistir Arrow. Apesar da terceira temporada problemática e do fiasco da quarta, a série se redimiu no seu quinto ano, com uma das tramas mais aclamadas desde a estreia da série. 

Arrow ainda se mantém como o maior carro chefe da DC na televisão, e um caminho para as pessoas conhecerem personagens dos quadrinhos que dificilmente serão adaptados para o cinema. Além disso, a criação de um universo compartilhado proporciona a possibilidade de se adaptarem vários arcos legais dos quadrinhos, como Invasion, que uniu as quatro principais séries de heróis da CW em um plot comum. 

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

RESENHA | Demolidor por Frank Miller e Klaus Janson - Volume 3


Não é raro no mundo dos quadrinhos que um quadrinista tenha seu nome mais intimamente ligado a um personagem do que a outros, ainda assim são raros os casos como o de Frank Miller e do Demolidor. Das melhores histórias já publicadas do herói cego de Hell's Kitchen, a grande maioria foi escrita por Miller, tanto que ele é reconhecido pelos fãs como o "criador moral" do Demolidor. Desde a criação do personagem em 1964 por Stan Lee e Bill Everett (e não podemos esquecer de Jack Kirby, que concebeu o visual do herói), não houve outro roteirista/artista que tenha acrescentado tantos elementos a sua mitologia como Frank Miller. Ele enriqueceu a origem do herói, sem, contudo, alterar os alicerces já estabelecidos pelos criadores, mas acrescentando elementos novos, como a anti-heroína Elektra, antigo amor dos tempos de faculdade de Matt Murdock e que retorna a Nova York como uma assassina de aluguel, e Stick, um velho cego que foi uma espécie de mentor para Matt quando ele sofreu o acidente que tirou sua visão, ensinando-o a controlar seus sentidos ampliados. E Miller foi ainda mais longe ao desconstruir a versão de bom pai de Jack "Batalhador" Murdock, ao revelar que o pai de Matt era um homem falho e com problemas de violência. Falarei mais sobre este último tópico mais adiante nesta resenha.

Frank Miller começou a trabalhar com o Demolidor primeiramente como desenhista, em 1979, e em 1981 assumiu também os roteiros; a partir de então não apenas salvou o título do cancelamento, como também alçou o Demolidor ao patamar dos heróis mais populares da Marvel. Um dos motivos que fez com que esta fase alcançasse tamanho sucesso foi porque, dentre outros fatores, Frank Miller redefiniu o tom da revista, deixando para trás a inocência da Era de Prata para desenvolver enredos mais ácidos e pessimistas, e estabeleceu um padrão que seria seguido pela maioria dos roteiristas de quadrinhos nos anos seguintes. Ele conseguiu alcançar em seus roteiros o equilíbrio perfeito entre uma história de super herói, com todas as suas características clássicas, e uma trama policial noir, que é o tipo de história com o qual ele sempre preferiu trabalhar, mas que não tinha muito espaço dentro dos quadrinhos mainstreen. O Demolidor deixou de enfrentar vilões extravagantes e fantasiados para lidar com criminosos de rua, traficantes de drogas e gangsteres, como Wilson Fisk, o Rei do Crime, o qual foi brilhantemente trabalhado pelo autor para ser o maior adversário do Demolidor. Isso não quer dizer que os antigos vilões mascarados tenham sido completamente abolidos das histórias; pelo contrário, eles passaram a ser utilizados sob uma nova ótica, como o Mercenário, que se transformou em um assassino psicopata obcecado por destruir o Demolidor, e o Gladiador, que se regenerou e começou a fazer terapia para tratar de sua loucura.

Outra característica marcante da passagem de Miller por Demolidor é a arte. Os desenhos de Miller são inovadores, seu estilo de desenhar e a forma como ele utiliza os quadros potencializam e complementam a narrativa, lembrando muito o estilo do lendário Will Eisner. Mas nem todo o crédito pertence ele, já que em quase todas as edições ele contou com a colaboração de Klaus Janson, que, apesar de ter ficado a cargo da finalização da arte, recebeu cada vez mais liberdade conforme o autor se dedicava mais aos roteiros. Nas últimas edições Janson respondia por quase toda a arte, enquanto Miller apenas lhe entregava esboços.

A épica fase de Miller como artista e roteirista da revista Demolidor foi publicada na íntegra pela Panini Comics em três encadernados de luxo. Eu já avaliei os dois primeiros volumes, e o leitor poderá acessar estas resenhas clicando aqui aqui. O terceiro volume engloba as edições #183 a #191 e uma edição What if? #28, que mostra uma realidade alternativa onde o Demolidor se torna um agente da S.H.I.E.L.D. É uma historinha divertida, porém nada mais do que isso, portante não irei falar mais sobre ela nesta resenha.

Demolidor vs. Justiceiro

O terceiro volume começa com uma história que ilustra muito bem o tom mais maduro do roteiro de Miller, quando vemos o Demolidor tendo que lidar com um problema que assolava as grandes metrópoles americanas naquela época, e que ainda é um dos grandes desafios da nossa sociedade atual: o tráfico de drogas. Para piorar ainda mais a situação, temos a chegada do vigilante Justiceiro a Nova York, após ele ter fugido da prisão na última edição do volume anterior (fato que deixar passar batido em minha resenha, sorry!). Apesar de fazerem praticamente a mesma coisa - combater criminosos -, Demolidor e Justiceiro divergem na forma como lidar com os bandidos. O Demolidor, sendo um advogado em sua identidade civil de Matt Murdock, acredita fielmente no sistema judiciário, a quem confia o destino dos malfeitores, enquanto Frank Castle, movido por um desejo de vingança pela morte de sua família, vive uma cruzada solitária na qual ele é juiz, júri e executor. A concepção de ambos possui falhas, já que o sistema judiciário pode ser manipulado para que um indivíduo culpado seja absolvido, e um homem com sede de justiça pode ser enganado pelas circunstâncias e assassinar uma pessoa inocente. Esta história serve principalmente para definir de uma vez por todas um importante aspecto do código moral do Demolidor, que é o de não matar criminosos.

Além do Justiceiro, neste volume temos a participação de outra personagem do universo Marvel: a Viúva Negra. No passado ela e o Demolidor foram parceiros no combate ao crime por um tempo, além de amantes, e agora ela volta a Nova York durante uma investigação aos misteriosos ninjas do Tentáculo. O retorno da desta organização marca o início da conclusão da saga iniciada lá em Demolidor #168, quando fomos apresentados à Elektra. Desde que apareceu pela primeira vez, Elektra rapidamente conquistou uma legião de fãs, por vários motivos: seu visual era impressionante; seu estilo de lutar era único nos quadrinhos até então (naquela época ninjas, katanas, shurikens e sais não eram muito comuns em histórias ocidentais, e Frank Miller foi um dos principais divulgadores desta cultura nos EUA); sua relação de amor/ódio com o Demolidor não seguia o velho padrão do herói e da mocinha indefesa; e por fim, tinha o seu comportamento. Naquela época estava se popularizando o conceito dos anti-heróis, os quais transitavam na zona cinzenta entre o bem e o mal, desempenhando o papel de vilão ou de herói de acordo com seus interesses.

Apesar do amor dos fãs por Elektra, o destino da moça já estava traçado na cabeça do autor: para sua história funcionar, ela precisava morrer. E, para desespero dos leitores, ele concretizou esta ideia ao fazer o Mercenário assassiná-la, empalando-a com suas próprias adagas em Daredevil #181. Esta morte causou um grande alvoroço no mundo dos quadrinhos, principalmente reações de ódio a Frank Miller por ter matado uma das raras personagens femininas fortes da época. Muitos fãs também criticaram o autor por ter usado o infame artifício narrativo conhecido hoje como "mulher na geladeira¹", que consiste em provocar algum tipo de violência a uma personagem feminina apenas para atingir o protagonista homem (Alan Moore sofreu o mesmo tipo de crítica quando decidiu fazer o Coringa aleijar e estuprar Barbara Gordon em Batman: A Piada Mortal).

O Tentáculo Ataca

Seja como for, no mundo dos quadrinhos a morte raramente é definitiva e, algumas edições depois, Miller começou a preparar o terreno para a volta de Elektra do mundo dos mortos, e os ninjas do Tentáculo desempenharam um importante papel na ressurreição da moça, bem como um personagem que havia sido apresentado no volume anterior, o antigo mentor de Matt. Stick era na verdade o líder de um grupo de ninjas chamados Virtuosos (The Chaste, no original), os quais eram os principais antagonistas do Tentáculo. Muita coisa é revelada sobre o passado de Elektra neste arco, e passamos a entender um pouco mais os motivos que a fizeram empregar suas habilidades para matar pessoas, ao invés de protegê-las, como o Demolidor.

Como era de se esperar, Elektra ressuscita, porém sem que o Demolidor saiba que ela retornou, e a jovem, agora com um novo visual, deixa Nova York para viajar pelo mundo, jurando nunca mais rever seu amor. Na verdade, Frank Miller, seja lá por qual motivo - emocional ou comercial - não queria que sua criação fosse utilizada em outras histórias, fossem do Demolidor ou de outro herói da editora, e para isso fez um acordo com o então editor Raph Macchio para que seu desejo fosse respeitado. Este acordo valeu por dez anos, até que a Marvel, durante a crise financeira pela qual a editora passou na década de 90, resolveu trazer de volta a personagem, contrariando Frank Miller, que após isso rompeu de vez com a Casa das Ideias.

Voltando à década de 80 e aos tempos áureos de Miller à frente do Demolidor, a saga da ressurreição de Elektra também trouxe a conclusão do embate do Demolidor com o Rei do Crime. Talvez os fãs que esperavam uma solução mais definitiva tenham ficado um pouco decepcionados, já que este confronto permaneceu em um impasse. Wilson Fisk é muito poderoso para ser derrotado por um único homem, que, como já foi visto, não tem como modus operandi matar seus adversários; mas, por outro lado, ele também precisa do Demolidor para aterrorizar seus subordinados e fazê-los pensar que precisam de seu comando e proteção. Sendo assim, herói e vilão estão presos um ao outro, e ainda terão muitos embates nos anos vindouros, o maior deles também escrito por Frank Miller e considerado a melhor história do Demolidor: A Queda de Murdock.

Roleta Russa

Por último, não posso finalizar esta resenha sem falar sobre a melhor história deste encadernado, e também considerada por muitos a melhor edição escrita por Miller durante esta primeira fase na qual ele esteve à frente da revista do Demolidor. Nesta edição inteiramente desenhada por Miller e arte-finalizada por Terry Austin, o herói visita o Mercenário, que encontrava-se tetraplégico desde a última luta entre os dois, e ambos começam a jogar Roleta Russa, enquanto o Demolidor conta para seu inimigo uma trágica história sobre um menino que era fascinado pelo herói e seu vilão. Neste conto Miller desmascara todo o glamour que envolve o conceito dos super heróis para expor a verdadeira natureza destes indivíduos: a de que eles não passam de valentões usando os punhos para conseguir o que querem, e que esta imagem violenta é vendida como exemplo para as crianças. Para ilustrar este fato, Miller desmistifica a natureza altruísta do pai de Matt Murdock, até então considerado a principal inspiração do herói, revelando que Jack "Batalhador" Murdock era um homem com problemas alcoólicos e comportamento abusivo, e chegou a agredir o filho quando era criança. Roleta Russa é a história mais sentimental e psicológica de toda esta fase de Frank Miller à frente do Demolidor, e deixou uma importante lição: a de que heróis não são perfeitos, eles podem cometer erros, e estes erros podem influenciar as pessoas que acreditam e contam com eles.

Esta fase do Homem Sem Medo foi muito importante não só para a mitologia do herói cego da Marvel, como também fez parte do movimento que revolucionou a indústria dos quadrinhos na década de 80, o qual mudou a percepção das pessoas de que gibi é coisa de criança, e que os quadrinhos poderiam evoluir para contar histórias mais maduras, que jovens e adultos pudessem ler. Frank Miller esteve na vanguarda deste movimento, sendo o responsável por duas obras icônicas que quebraram paradigmas: Demolidor: A Queda de Murdock e Batman: O Cavaleiro das Trevas. Esta fase de Miller e Janson também inspirou adaptações do personagem para outras mídias, como o infame filme de 2003 estrelado por Ben Afflexk, e a consagrada série de TV produzida pela Netflix. Há ainda diversos personagens e arcos sobre os quais eu não falei ao longo destas três resenhas pois, se fosse falar de todos eles, meus textos ficariam maiores do que já estão. Recomendo a quem ficou interessado que vá ler o material fonte, que se encontra facilmente disponível em qualquer loja de quadrinhos. Boa leitura!

Capa do Volume 3
Notas:

1 - O termo "Mulher na Geladeira" surgiu por causa de um evento que ocorreu na edição #54 de Lanterna Verde, de 1994. Nesta história o substituto de Hal Jordan, Kayle Rayner, ao chegar em casa descobre que sua namorada havia sido assassinada pelo Major Força, o qual esquartejou a moça e colocou os pedaços dela na geladeira para provocar o herói. Saiba mais em http://nodeoito.com/mulheres-na-geladeira.