segunda-feira, 7 de agosto de 2017

RESENHA | Batman: Silêncio


Batman: Silêncio (Hush) foi a principal saga do Cavaleiro das Trevas lançada no início dos anos 2000, entre os números 608 a 619 da revista Batman, da DC Comics. Esta maxissérie foi roteirizada por Jeph Loeb, que dispensa apresentações (Batman: O Longo Dia das Bruxas e Homem-Aranha Azul são apenas dois de seus trabalhos mais famosos), e desenhada por Jim Lee, aquele mesmo que nos anos 90 debandou da Marvel para fundar a Image Comics juntamente com outros artistas descontentes. A missão de Loeb não era nada fácil: levantar as vendas da revista do Morcegão após a ressaca que veio após a megassaga Terra de Ninguém nos anos 90, e uma sequência de histórias que variavam de medianas a ruins que vieram depois. O resultado foi uma Graphic Novel que figura entre as 10 melhores do Batman, de acordo com o site de entretenimento IGN.

O roteiro desta HQ tem a mesma estrutura de outros trabalhos do autor: trata-se basicamente de uma história de mistério, que, diga-se de passagem, é um dos talentos de Loeb. Há um novo vilão em Gotham City, chamado Silêncio, que está manipulando das sombras os principais vilões e aliados do Batman afim de atingi-lo, tanto física como psicologicamente. Um dos grandes problemas desta história, no entanto, é que na verdade não há mistério nenhum quanto à identidade de Silêncio, que desde as primeiras edições está na cara de quem se trata, e todas as tentativas de Loeb de dissuadir o leitor do contrário não passam de cortinas de fumaça e desculpas para inchar o roteiro desnecessariamente.

Silêncio

Apesar deste "pequeno" problema, ainda é possível dizer que Silêncio é uma boa história do Batman, e um dos motivos para afirmar isso é que nela vemos o Homem Morcego enfrentando quase toda sua Galeria de Vilões. Estão presentes na trama Coringa, Arlequina, Hera Venenosa, Charada, Ra's Al Ghul, Lady Shiva, Crocodilo, Espantalho, Cara de Barro e Duas Caras. Isso não é nenhuma surpresa, considerando que é uma marca registrada dos roteiros de Jeph Loeb o uso de tantos vilões em uma única trama. Ele já havia feito isso no passado também com o Batman e com o Homem Aranha, dois heróis com as mais formidáveis galerias de vilões dos quadrinhos. E um ponto positivo a ser destacado é que esses vilões não aparecem na trama à toa, cada um deles tem um papel muito bem definido pelo autor.

Além disso, Batman: Silêncio conta com um "bônus": o confronto entre o Cavaleiro das Trevas e o Homem de Aço. Qualquer autor que coloque os dois heróis para se enfrentar sempre sofrerá com a comparações com a luta escrita por Frank Miller em O Cavaleiro das Trevas, de modo que tem muita gente que torce o nariz para a luta que ocorre na edição #5 de Silêncio. De fato não é a melhor das lutas entre os dois heróis, mas até que gostei da conclusão da luta, especialmente a forma como o Batman encerra o combate (e não teve nada a ver com o nome das mães de ambos serem iguais!).

Batman vs Superman

Outra boa razão para ler Silêncio é que nela vemos novamente o Batman assumir o papel do Maior Detetive do Mundo. Ultimamente temos visto tanto o herói depender de tecnologia para realizar sua missão (da mesma forma como o Homem de Ferro da Marvel cada vez mais se transforma no Batman, o processo inverso também está acontecendo), que é um alívio quando finalmente o vemos empregar nada mais que suas habilidades mentais e táticas para solucionar um mistério. Neste contexto, ajuda muito o fato da história ser narrada pelo próprio Cruzado de Capa, através dos recordatórios, e eu já mencionei em outra resenha que Jeph Loeb tem um talento para usar este recurso dos quadrinhos como ninguém.

Através da narrativa de Bruce Wayne mergulhamos fundo em sua torturada psiquê, de modo que conseguimos enxergar o ser humano por baixo do capuz, um ser humano repleto de traumas e remorsos causados pelas várias tragédias pelas quais passou ao longo da carreira de vigilante. Estas tragédias o levaram a ser um homem solitário, pelo medo de que outras pessoas próximas a ele sofressem destinos parecidos com os de Barbara Gordon, Jason Todd e Sarah Essen (todos vítimas do Coringa, por sinal). Apesar disso, a Batfamília nunca parou de crescer, e Loeb defende a importância dos aliados do Morcego para que ele possa ser capaz de seguir em frente. Um destes aliados recebe atenção especial do autor sempre que ele passa pelas histórias do Batman: a Mulher Gato. Se em Vitória Sombria ela se afastou do Batman por perceber que ambos têm segredos demais para conseguirem ficar juntos, desta vez é o Homem Morcego quem baixa a guarda e revela à moça seu maior segredo, numa importante demonstração de confiança.

Batman e Mulher Gato 

Batman: Silêncio não é um grande clássico do Batman, o roteiro de Jeph Loeb é frágil e não sustenta a mesma qualidade de seus outros trabalhos, além de apresentar um vilão sem graça, porém rende uma boa diversão quando vemos o Batman lutar contra vários de seus principais inimigos, muito bem desenhados na arte incrível de Jim Lee e Scott Williams. Esta história deixou também um importante legado para a mitologia do Morcego: além de introduzir um novo vilão, ela aproximou ainda mais a Mulher Gato do herói (não por muito tempo), um importante vilão descobriu a identidade do Batman (não por muito tempo), o Duas Caras se regenerou (não por muito tempo) e também pavimentou o caminho para a volta de um importante personagem dos mortos.

Esta HQ foi lançada no Brasil em um encadernado de luxo pela Panini Comics (que infelizmente está esgotado há bastante tempo!) mas também pode ser encontrado na coleção de Graphic Novels DC da DC da Eaglemoss, em dois volumes. Boa leitura!

Capa do Encadernado Absolute Batman: Hush

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