segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

[RESENHA] Desafio Infinito


Desafio Infinito, no original The Infinity Gauntlet (A Manopla do Infinito), é uma minissérie em seis edições lançada em 1991 pela Marvel Comics, com roteiro de Jim Starlin e desenhos por George Perez e Ron Lim. Esta saga é a continuação de Thanos: Em Busca de Poder, na qual o Titã Louco reuniu todas as Joias do Infinito, tornando-se o ser mais poderoso do Universo Marvel (leia aqui a minha resenha sobre esta minissérie). Esta saga serviu de inspiração para o próximo filme dos Vingadores - Guerra Infinita - cuja trama se iniciou lá na cena pós-créditos do primeiro filme da franquia quando tivemos um vislumbre de Thanos.


Em Desafio Inifinito, Startlin faz algo semelhante ao que Jim Shooter fez em Guerras Secretas, reunindo quase todos os principais heróis da Marvel para enfrentar a ameaça do Titã Ensandecido. Apesar de nomes de peso como Capitão América, Thor, Wolverine e Dr. Destino, o escolhido de Starlin para liderar os Campeões da Terra é um personagem esquecido pela editora há mais de uma década chamado Adam Warlock, devido a sua relação direta com as Joias do Infinito. Adam possuíra por muitos anos a Joia da Alma, que lhe conferiu os poderes místicos que lhe deram a alcunha Warlock (warlock = feiticeiro, mago). Na trama, Adam Warlock decide reunir os mais poderosos heróis da Terra após Thanos utilizar o poder da Manopla do Infinito (a luva na qual ele colocou todas as Joias do Infinito) para assassinar metade dos seres vivos de todo o Universo. Esta é sem dúvida a cena mais icônica da saga, e uma das melhores de todos os quadrinhos, quando o vilão realiza o maior genocídio estelar já registrado em papel jornal com um simples estalar de dedos. Quanta moral, não?


Thanos Assassina Metade do Universo

O interessante do enredo desenvolvido por Starlin é sensação de inevitabilidade que se tem ao ver os heróis enfrentando a ameaça de Thanos. Em primeiro lugar porque, tendo os poderes de um deus, é praticamente impossível derrotar Thanos pelos métodos convencionais. Nem mesmo as entidades mais poderosas do Universo Marvel, como Galactus, Kronos e Eternidade foram capazes de fazer frente ao poder das Joias. Em segundo lugar porque, após a morte de tantos personagens importantes (o Homem de Ferro sendo decapitado é mostrado quase que de forma casual), é impossível sentir medo de verdade pela vida dos heróis, já que dificilmente a Marvel iria permitir que um roteirista matasse vários astros de suas principais revistas sem a garantia de que ele criasse um jeito de trazê-los de volta à vida no final da história.

Jim Starlin se consagra como um dos maiores roteiristas dos quadrinhos, ao nos proporcionar uma trama inteligente, impactante e repleta de reviravoltas. Um bom exemplo disso é a solução final para a ameaça de Thanos, de uma simplicidade absurda, mas que não cai no ridículo. Sem dar spoilers (apesar de que, para uma história de mais de 20 anos, entregar o final não seria lá um spoiler) basta dizer que Starlin criou o interessante conceito de que, na verdade, Thanos não queria vencer a batalha, e que ele só seria derrotado se ele permitisse. Tal conceito justificou a presença de Adam Warlock na trama, uma vez que, estando unido à Joia de Alma, somente ele conheceria as nuances da personalidade do vilão.

Adam Warlock

O final desta saga acaba ficando em aberto, com o poder das Joias mudando de mãos, enquanto ficamos sem saber se o(a) novo(a) portador(a) da manopla é verdadeiramente confiável. Esta história rendeu ainda duas continuações: Guerra Infinita e Cuzada Infinita, que constituem a Trilogia do Inifinito.

A arte de George Pérez casa perfeitamente com a história de proporções cósmicas de Jim Starlin, com seus quadros amplos mostrando dezenas de personagens lutando entre si ou reunidos antes da batalha, bem como cenários grandiloquentes, que tanto sucesso fizeram na Crise nas Infinitas Terras da rival DC Comics. Sua caracterização dos personagens também esta impecável, descontado-se, é claro, os exageros da época. Sendo uma história datada, o visual de alguns heróis era bastante diferente do que estamos acostumados, por exemplo: o Thor barbudo, Hulk usando roupas apertadas, Namor de tanguinha, e por aí vai.

Thanos vs. Todo Mundo

Embora Desafio Infinito seja uma saga de grande sucesso, e tenha se tornado ainda mais conhecida após a notícia de que será adaptada nas telonas, até hoje esta saga não foi publicada aqui no Brasil com o respeito que ela merece, no mínimo um encadernado de luxo, em capa dura, como a Panini fez com a Crise e posteriormente com Guerras Secretas. Nossa esperança reside no apelo que a saga de Jim Starlin terá quando for lançado Vingadores 3, afinal, isto não seria incomum, já que Batman vs. Superman provocou o relançamento dos encadernados d'A Morte do Superman. Boa leitura!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

[RESENHA] Thanos - Em Busca de Poder


Com o início das gravações de Vingadores 3 e 4 começando hoje (23), nada mais apropriado do que postar uma resenha sobre a história que serviu de prelúdio para Desafio Infinito, a grande batalha dos super heróis Marvel contra o Titã Louco, Thanos, que os tão aguardados filmes dos Vingadores irão adaptar. Thanos: Em Busca de Poder foi uma HQ lançada em 1990 em duas edições, escrita por Jim Starlin e ilustrada por Ron Lim e John Beatty (arte final), a qual narra a busca de Thanos pelas famigeradas Joias do Infinito.

Quando se trata de sagas cósmicas, não há nome mais tarimbado do que o de Jim Starlin, responsável por histórias como Desafio Infinito, da Marvel, e Odisseia Cósmica, pela DC Comics. Nesta incrível história, no original The Thanos Quest, Starlin não deixa a desejar, presenteando os leitores uma excelente trama envolvendo os Anciões do Universo, as Joias do Infinito e o Titã Insano! 

Par quem não o conhece, Thanos é um vilão dos Vingadores, que apareceu pela primeira vez na revista do Homem de Ferro nº 55, em 1973, tendo sido criado pelo lendário roteirista e desenhista Jim Starlin. Resumindo sua história, ele nasceu em uma das luas de Saturno chamada Titã, e pertence a uma raça de seres superpoderosos e tecnológicos - os Titãs Eternos. Além dele mesmo, o único ser que ele ama é a Senhora Morte, cujos desejos ele tenta a todo custo satisfazer, e isto significa matar o maior número de seres vivos possível. Esta foi uma das facetas do vilão que me fizeram achá-lo tão interessante. Em meio a tantos vilões espaciais que aparecem nos quadrinhos, tanto da Marvel como da DC, o que não falta na maioria deles é o velho clichê de dominação universal; não que Thanos não tenha o desejo de governar o Universo, porém fazer isto apenas com o objetivo de agradar a Morte, realmente foi uma novidade para mim.

Thanos Diante da Morte

Outro aspecto interessante desta HQ é a visão que o autor estabelece das Joias do Infinito. Antes conhecidas como Joias Espirituais, ou Joias da Alma, ele lhes conferiu um novo significado, e a palavra-chave que traduz o seu poder é: manipulação. Cada uma delas é capaz de manipular um determinado aspecto da realidade, o que explica as maravilhas que seus portadores podiam realizar. Por exemplo, o Ancião do Universo conhecido como Jardineiro era capaz de fazer florescer jardins esplêndidos porque em seu poder estava a Joia do Tempo, que fazia com que os ciclos de crescimento das plantas fossem acelerados; já o Corredor era capaz de se mover mais rápido do que a luz porque a Joia do Espaço simplesmente encurtava as distâncias que ele percorria. No entanto, o verdadeiro poder das joias emerge quando elas são reunidas, e é isso o que Thanos busca nesta trama.

Apesar de ser uma criatura dotada de poderes além da imaginação, poucas foram as vezes em que Thanos utilizou a força bruta contra os Anciões do Universo para tomar deles as Joias do Infinito. Isto é um fato que com certeza faz valer a pena ler esta história. É instigante ver como Thanos utiliza sua astúcia, aliada à coragem de um verdadeiro apostador, para derrotar seres poderosíssimos do Universo Marvel, incluindo o Grão-Mestre e o Colecionador. Além disso, conforme ele vai reunindo as Joias, ele passa a usar seus poderes a seu favor, de forma a neutralizar as vantagens de seus adversários.

Thanos Detém as Joias do Infinito

A arte de Ron Lim é competente, retratando um Thanos imponente e ameaçador, diferentemente de suas primeiras aparições lá na década de 70. A única coisa que me incomoda um pouco é a colorização, que na minha opinião deixou algumas páginas muito escuras. Mas nada disso atrapalha a experiência de testemunhar um dos maiores vilões dos quadrinhos se tornando um dos seres mais poderosos do Universo, e o pior (ou melhor!) de tudo, é que torcemos por ele!

Esta é uma minissérie obrigatória para quem quer conhecer mais deste vilão tão ímpar, principalmente agora que ele está prestes a ser levado para as telonas nos próximos filmes do MCU, após termos alguns vislumbres em Vingadores 1 e 2 e Guardiões da Galáxia. Aquino Brasil Thanos: Em Busca de Poder foi publicada em duas edições pela Abril Jovem, de modo que é muito difícil achar esta obra para se adquirir, a não ser no Mercado Livre, a preços exorbitantes. Mina esperança é que, com os filmes dos Vingadores se aproximando, a Panini se anime (rimou!) e lance essa história em um encadernado de luxo, de preferência.

Boa leitura!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

[RESENHA] Guerras Secretas dos Super Heróis Marvel


Assim como fez no cinema, revolucionando os filmes de super heróis ao criar o primeiro universo compartilhado a partir do filme dos Vingadores, também nos quadrinhos a Marvel Comics inaugurou a era dos grandes crossovers com a megassaga Guerras Secretas, em 1984. Com roteiros de Jim Shooter e arte de Mike Zeck e Bob Layton, esta grandiosa história reuniu os principais medalhões da editora na época, dentre heróis e vilões, como o Capitão América, Homem Aranha, Wolverine, Sr. Fantástico, Dr. Destino, Ultron e Galactus, e os colocou para lutar entre si em uma batalha até a morte. Não demorou muito para que a "Distinta Concorrência" copiasse a ideia em sua igualmente grandiosa Crise nas Infinitas Terras, embora com um objetivo diferente.

Curiosamente, a ideia para Guerras Secretas não surgiu de dentro da editora, mas sim de uma empresa de brinquedos. A Mattel, vendo o sucesso da parceria entre Kenner e DC Comics, resolveu investir nos personagens da Casa das Ideias, mas com a condição de que a Marvel lançasse uma história para alavancar as vendas. Infelizmente a linha de brinquedos não alcançou o sucesso esperado, porém a história lançada pela Marvel bateu recordes de vendas, tornando-se um sucesso instantâneo. Outra curiosidade interessante foi a origem do nome da saga: aparentemente o pessoal da Mattel havia feito uma pesquisa com meninos adolescentes e descobriram que as palavras "guerra" e "segredo" tinham um grande apelo nessa faixa etária. Não foi difícil, então, juntar as duas palavras num título que agradasse a criançada dos anos 80.

Guerras Secretas

Tendo um claro propósito puramente comercial, não seria de espantar que a trama de Guerras Secretas fosse a mais simples possível. Na verdade, a ideia de juntar tantos personagens da editora numa mesma história era uma antiga reivindicação dos fãs, que clamavam por uma reunião dessas em suas cartas aos editores. O que Shooter fez foi simplesmente atender a estes fãs, fazendo de Guerras Secretas um gigantesco fan service. Assim, ele criou o Beyonder, uma entidade cósmica com poderes equivalentes aos de um deus (nem mesmo Galactus fora páreo para ele), o qual, por algum motivo, resolveu literalmente abduzir heróis e vilões e observá-los lutar em um mundo formado por retalhos de outro mundo. Para incentivá-los, ele prometeu realizar seus desejos mais íntimos caso eles fossem capazes de derrotar seus oponentes. Como já era de se esperar, rapidamente os "guerreiros" formaram lados: tinha a facção dos heróis, sob a liderança do Capitão América, e a dos vilões, comandados pelo Dr. Destino. No entanto, uma decisão interessante do roteirista foi colocar Magneto ao lado dos heróis. Apesar de ser um conhecido vilão, Magneto não é de todo mau: ele apenas não hesita em cometer atrocidades pelo "bem maior". Assim, numa condição atípica como a guerra promovida pelo Beyonder, o rei do magnetismo ficou ao lado dos mutantes contra quem sempre lutara, o que gerou desconfiança por parte dos demais heróis, provocando a separação dos X-Men em um grupo à parte, mas ainda aliado aos heróis.

Apesar de reunir tantos nomes de peso, um leitor de quadrinhos do século XXI não reconheceria muitos dos personagens que apareceram em Guerras Secretas, como o Homem Absorvente (calma, não é o que você está pensando!), o Homem Molecular e a Gangue da Demolição. Outra coisa que causa estranhamento nos leitores mais novos de quadrinhos é o visual dos heróis: poucos personagens tiveram sua aparência praticamente inalterada desde quando foram criados, como é o caso do Homem Aranha, o Capitão América e o Hulk; entretanto, personagens como a Vampira, Wolverine e Vespa aparecem com visuais bem diferentes do que ostentam hoje em dia, e ainda outros, como o Homem de Ferro e a Capitã Marvel, tinham até mesmo alter-egos diferentes (o homem por trás da armadura não era Tony Stark, o qual sofria uma recaída por causa das bebidas, mas Jim Rhodes).

Homem Aranha com Uniforme Negro

Além de abalar o universo dos quadrinhos com uma grande reunião de super heróis e vilões, Guerras Secretas também trouxe diversas mudanças nas revistas da editora. Muitas dessas mudanças foram locais e rapidamente foram esquecidas, porém outras são lembradas até hoje, como o encontro do Homem Aranha com o simbionte alienígena que lhe conferiu o uniforme negro, que caiu nas graças dos fãs e que seria responsável pelo surgimento de um importante personagem: Venom.

Recentemente Guerras Secretas foi publicada aqui no Brasil na coleção da Salvat, em duas partes, e num encadernado de luxo da Panini (bem mais bonito que o da Salvat, principalmente pela arte da capa, cortesia do talentosíssimo Alex Ross), de modo que este material está facilmente acessível as novos leitores. Meu alerta para vocês é o seguinte: não se deixem levar pelas expectativas: tenham sempre em mente que esta é uma HQ datada, publicada há mais de 30 anos, ou seja, muita coisa mudou de lá para cá nas histórias dos personagens, e também na forma de se desenhar quadrinhos. Não esperem um roteiro sofisticado e profundo; esta foi uma HQ produzida às pressas, seus diálogos são rasos, as motivações dos personagens são fracas e os clichês estão em toda parte. A arte de Mike Zeck e Bob Layton é bonita, porém não dá para comparar com os desenhos atuais, uma vez que segue o estilo setentista, mais agradável aos saudosistas. Como diversão é um prato cheio, mas não passa muito disso.

Boa leitura!

Capa da Edição Especial, por Alex Ross