Este ano o Batman comemora 80 anos desde sua estreia, na edição de número #27 da revista Detective Comics (capa acima), publicada então pela National Comics, que mais tarde viria a se tornar a DC Comics. Sua criação veio como uma resposta a outro grande super herói, na verdade o primeiro de todos, que havia sido apresentado ao mundo quase um ano atrás na revista Action Comics #1: o Superman. A fim de aproveitar o rastro do sucesso estrondoso do herói azul e vermelho, a National Comics encomendou ao artista Bob Kane a criação de outro super herói que rivalizasse com o Superman, e assim nasceu o Bat-Man (isso mesmo, com hífen).
Segundo Kane, as principais inspirações para a concepção do personagem foram os heróis dos pulps¹ como Zorro, o Sombra e Sherlock Holms, além de um esboço de asas mecânicas semelhantes às de um morcego (ornitóptero) projetadas por Leonardo Da Vinci, e o vilão do filme The Bat Whispers, de 1930. Porém, hoje se sabe que Bob Kane não foi o único criador do personagem, embora por décadas a DC Comics tenha creditado apenas a ele este feito. O roteirista Bill Finger teria sido o responsável por dar a ele o visual pelo qual o conhecemos atualmente, uma vez que o primeiro esboço de Bob Kane mostrava um herói com roupas vermelhas, asas de morcego e máscara apenas nos olhos; foi Finger quem imprimiu o tom mais noir e detetivesco das histórias, além de ter criado a identidade civil de Bruce Wayne. Como a justiça tarda mas não falha, em 2015 Finger passou a receber créditos pela criação conjunta do herói (é claro que ele não estava mais vivo para receber tais créditos).
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Primeira Versão do Batman |
As histórias do Batman possuíam um tom bem mais sombrio do que as do Superman. Desprovido de superpoderes, o Batman precisava contar apenas com suas habilidades físicas e mentais, além de todo um aparato tecnológico para resolver seus casos. Assim como a criatura que escolheu como símbolo, ele preferia agir à noite, de forma furtiva, pegando seus adversários de surpresa. Mais do que um super herói propriamente dito ele era um Detetive.
Nestes primeiros anos de sua trajetória nos quadrinhos, o Batman ainda não seguia o código moral que pautaria suas ações nas décadas futuras e que faria parte da prórpria essência do personagem: além de matar seus inimigos, ele não se incomodava em portar pistolas, algo que também viria a ser um tabu para o personagem no futuro, dado que seus pais haviam sido mortos por uma arma de fogo. Em diversas ocasiões nesssas primeiras aventuras ele mata seus adversários, ou permite que morram, das mais variadas formas. Tortura psicológica também fazia parte do repertório: em Detective Comics #28 vemos ele usar pela primeira vez o expendiente clássico de pendurar o bandido no alto de um prédio por uma corda para obter informações, numa cena praticamente igual à que Christopher Nolan utilizou no seu filme O Cavaleiro das Trevas, de 2008.
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As Várias Vezes em que Batman Matou |
Vários elementos consagrados da mitologia do herói foram sendo acrescentados ao longo dessas primeiras edições. O Comissário de Polícia Jim Gordon aparece logo na primeira história, mas a cidade em que as histórias se passavam era Nova York, e não Gotham City. Gotham somente seria mencionada na edição #4 da revista Batman, em 1940. Embora apareça na capa da edição #27, é somente no número seguinte que vemos Batman se balançando pelos prédios com sua "bat-corda", que ele também usa para laçar os bandidos. O famoso cinto de utilidades é apresentado na edição #29, juntamente com cápsulas de gás usadas para atordoar os inimigos. Na edição #31 os leitores são apresentados às primeiras versões do "Bat-plano", primeiro veículo oficial do Morcego para se deslocar pela cidade (antes ele utilizava um automóvel comum) e do "batarangue", o famoso bumerangue em forma de morcego. Em 1940, na edição #37, o Batman já usava óculos de visão noturna para poder enfrentar seus inimgos na mais completa escuridão.
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Primeiras aparições: batplano e batarangue |
A origem do Batman foi finalmente revelada em Detective Comcis #33, e praticamente não houve grandes alterações desde então: o assassinato dos Waynes por um bandido comum, o juramento do jovem Bruce de lutar contra o crime, seu treinamento, e a inspiração para o uniforme estão todos lá, condensados em uma única página!
A estreia de Robin não tardou a acontecer. O Menino Prodígio foi apresentado na edição #38 de Detective Comics, como uma forma de atrair leitores mais jovens para a revista, já que as aventuras solo do Morcego eram voltadas para um público mais adulto. Ele trouxe um colorido e uma leveza para a série, o que fez com que uma parcela dos fãs até hoje o odiassem, pois ele teria desta forma alterado a essência do Batman.
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Surge o Robin |
Finalmente, não poderia deixar de falar dos vilões, pois quem seriam os super heróis sem seus arqui-inimigos? Afinal, não dizem por aí que um herói é medido pela estatura de seus vilões? Isso não poderia ser diferente para o Batman, que possui a galeria de vilões mais formidável dos quadrinhos.
O primeiro adversário de peso enfrentado pelo Batman em suas primeiríssimas aventuras foi o Dr. Morte. Hugo Strange foi introduzido pouco tempo depois, em Detective Comics #36. Somente na primeira edição da revista Batman, lançada em abril de 1940, que os leitores conheceriam o maior inimigo de todos os tempos do Batman: o Coringa. Nesta mesma edição a Mulher Gato também fez a sua estreia, embora com um visual bem diferente do que conhecemos hoje. O Pinguim e Duas Caras também foram criações de Bob Kane, fechando o núcleo mais clássico da galeria de vilões do Batman.
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Primeira Aparição do Coringa |
Como o leitor pode ter percebido, todo o arcabouço principal da mitologia do Batman foi estabelecido nestes primeiros anos de publicações, pelas mentes de seus criadores, os quais ergueram a base sobre a qual outros iriam trabalhar, na construção de um verdadeiro universo que está sempre em expansão e aperfeiçoamento. Embora não se saiba ao certo o que foi criação quem, o fato é que Bob Kane e Milton "Bill" Finger foram os criadores de um verdadeiro mito os tempos modernos, um personagem que sobreviveu à passagem dos anos, à censura, à tentativas de difamação e à famigerada série de TV de 1966, e até hoje arrebanha uma legião de fãs, das mais variadas idades.
Vida Longa ao Morcego!