domingo, 27 de agosto de 2017

RESENHA | Demolidor por Frank Miller e Klaus Janson - Volume 2



Criado em 1964 pela dupla Stan Lee e Bill Everett, durante o turbilhão criativo em que surgiram personagens como o Quarteto Fantástico, o Homem Aranha, os X-Men e os Vingadores, o Demolidor é um dos heróis mais clássicos da Casa das Ideias. No entanto, ao final da década de 70 a revista do Demolidor encontrava-se à beira do cancelamento, devido a uma sucessão de histórias ruins. Foi por volta desta época que o artista Frank Miller, após desenhar o Demolidor em duas histórias com o Homem-Aranha, foi convidado pelo editor Jim Shooter para fazer a arte da revista solo do Demolidor, em parceria com o roteirista Roger Mackenzie. Dois anos depois Miller também assumiu o roteiro do título, acumulando as duas funções, e Klaus Janson, que se tornaria seu principal colaborador ao longo dos anos, ficou com a arte-final.

Com o completo controle criativo da revista, Frank Miller mudou completamente o formato das histórias do Demolidor, substituindo as aventuras curtas nas quais o herói enfrentava o "vilão da vez" por pequenos arcos de histórias que duravam algumas edições, cujos eventos estavam interligados e faziam parte de uma trama maior. O tom das histórias, antes mais leve e ingênuo, se tornou cada vez mais sombrio e realista, característica que viria a marcar os trabalhos de Miller. Este primeiro run do famoso quadrinista com o Demolidor até hoje é considerado um dos melhores momentos do herói nos quadrinhos, quando foram lançadas as bases que estabeleceram toda a mitologia do herói cego de Hell's Kitchen: seu relacionamento com a anti-heroína Elektra Nachios, a rivalidade mortal entre o Demolidor e o Mercenário, e o estabelecimento do Rei do Crime - antigo vilão reaproveitado do Homem-Aranha -, como a maior nêmese do Homem Sem Medo.

Apesar da qualidade destas histórias e de sua importância, até hoje este material não havia recebido o tratamento que os fãs mereciam, até que a editora Panini Comics, embalada pelo sucesso da série do Demolidor da Netflix, resolveu publicar esta fase consagrada na íntegra e em formato de luxo, em três belos encadernados. Se no primeiro volume (clique aqui para acessar esta resenha) Frank Miller surpreende seus leitores com a forma ousada com a qual ele reconduziu o Rei do Crime ao seu posto, neste segundo encadernado testemunhamos um dos eventos mais importantes da história do Demolidor, e um dos mais icônicos dos quadrinhos de todos os tempos: a morte de Elektra!

Matt Murdock vs. O Tentáculo

No primeiro arco deste volume somos apresentados à organização criminosa de ninjas conhecida como Tentáculo. Alguém poderia pensar que ao inserir ninjas em uma história urbana policial seria ir na contramão do processo de aproximação da histórias do Demolidor com o mundo real, porém Miller o faz com maestria, e o resultado é simplesmente as melhores e mais bem desenhadas cenas de ação deste quadrinho. A paixão de Miller pela cultura japonesa nunca foi segredo para ninguém: ele foi um dos principais responsáveis pela disseminação dos mangás no Ocidente, e é possível perceber a influência deste estilo em várias de suas obras.

A ameaça do Tentáculo é a desculpa perfeita para reintroduzir uma personagem que havia conquistado os fãs desde que estreara: a mercenária grega Elektra, a antiga namorada de Matt Murdock dos tempos da faculdade. Aqui é revelado que ela era um membro renegado desta organização, e fora com eles que ela aprendera as técnicas de luta ninja. Apesar de estarem do lado oposto da lei e da moça negar veementemente seus sentimentos por Matt, quando ele se torna alvo do Tentáculo ela retorna a Nova York em seu auxílio. Esta volatilidade moral, principal característica dos anti-heróis, foi um dos fatores que fez com que os leitores simpatizassem rapidamente com ela, além, é claro, de seu visual incrível.

Outro personagem importante introduzido nesta história é o velho cego Stick. Stick fora o mentor de Matt Murdock quando ele ficou cego, e foi quem lhe ensinou a controlar seus sentidos ampliados. Assim como no caso de Elektra, Miller não hesita em fazer uso do retcon, um dos recursos narrativos mais usados nos quadrinhos, que é quando uma mudança importante é feita no passado de um personagem para explicar determinado evento de seu presente. Nesta história Stick tem um papel pequeno, porém importantíssimo: ele ajuda o Demolidor a recuperar seu sentido de radar após o herói tê-lo perdido quando atingido por uma explosão provocada pelos ninjas do Tentáculo.

O Treinamento com Stick 

No segundo arco o Demolidor tem novamente como adversário o Rei do Crime, que pretende eleger um prefeito para ser sua marionete no comando de Nova York. Wilson Fisk agora tem o controle completo de todas as quadrilhas criminosas da cidade, e é sem dúvida o inimigo mais poderoso do Demolidor. É impressionante o trabalho de desenvolvimento de personagem que Frank Miller fez com o Rei do Crime: anteriormente um personagem subaproveitado, nas mãos de Miller ele se tornou um vilão de primeira categoria. Apesar de sua enorme força física, ele não tem nenhum superpoder, e isso fez dele o personagem ideal para a história que Miller vinha construindo para o Demolidor. Ele é um adversário implacável, sempre agindo das sombras, fazendo sua vontade ser cumprida através medo e intimidação. Um de seus principais artifícios de persuasão é sua assassina particular, Elektra, que substituiu o Mercenário após ele ser preso.

Apesar de a maioria das pessoas concordar que o Rei é intocável, ainda há pessoas corajosas que o enfrentam, como o repórter Ben Urich. Este é outro personagem que cresceu nas mãos de Miller. Seu papel nas histórias do Demolidor é bem parecido com o do Comissário Gordon nas revistas do Batman: o de um homem obcecado pelo dever para com sua cidade a ponto de sacrificar sua própria vida pessoal. Porém, ao contrário de Gordon, ele não possui os meios de se defender, tornando-o um personagem muito vulnerável e dependente de seu amigo, o Demolidor. Uma das edições mais legais deste volume, chamada Adagas, mostra todos os eventos sob a ótica de Ben, quando ele está tentando expor a farsa da candidatura de Winston Cherryh, o que acaba colocando-o na mira das adagas sai de Elektra. É nesta edição que vemos o confronto entre ela e o Demolidor, numa cena de luta de tirar o fôlego.

Elektra vs. Demolidor

Embora o Rei do Crime seja o grande arqui-inimigo do Demolidor, o Mercenário ainda é o responsável pelas maiores mazelas que assolaram a vida pessoal de Matt Murdock. Ele está para o Demolidor como o Coringa está para o Batman; Frank Miller transformou um vilão fantasiado de boa pontaria em um assassino completamente psicótico, obcecado em se vingar do herói que o derrotara tantas vezes. Numa fuga espetacular da prisão, o Mercenário volta a Nova York e mata a mulher que o substituíra como a principal assassina do Rei do Crime. Numa cena carregada de emoção, vemos Elektra atravessar a cidade, mortalmente ferida, para morrer nos braços do único homem que amara. Esta tragédia marcaria para sempre a vida do Demolidor, e foi o ato que transformou o Mercenário em seu maior inimigo pessoal.

Não preciso nem mencionar que esta HQ é item obrigatório para qualquer fã do Demolidor. Dos três volumes publicados pela Panini desta fase, este é sem dúvida o melhor deles, por abordar eventos que marcariam para sempre a trajetória do Diabo da Guarda de Hell's Kitchen. Boa leitura!

Capa do Volume 2

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Game of Thrones: Um Guia para Iniciantes


Game of Thrones é uma das séries de TV mais consagradas da atualidade. Como a maioria já deve saber, mas não custa mencionar, sua trama é baseada na série de livros As Crônicas de Gelo e Fogo, do escritor George R. R. Martin. Apesar dos produtores David Banioff e D. B. Weiss terem omitidos diversos personagens e subtramas, ainda assim esta é uma das séries com o maior elenco que eu já vi, e isso acaba acarretando alguns problemas de entendimento da trama para aqueles que estão começando a adentrar no fantástico Universo de Gelo e Fogo pela primeira vez. Só para se ter uma ideia, há muitos personagens que só aparecem brevemente em algum episódio para depois retornar algumas temporadas depois com algum papel importante, e nem sempre os flashbacks introdutórios que precedem os episódios são suficientes para relembrar alguns telespectadores desavisados. Para piorar, há diversos acontecimentos do passado dos personagens que afetam diretamente a trama da série, os quais só são explicados (quando são) por meio de conversas arrastadas envolvendo nomes e lugares que acabam passando batidos pelos espectadores.

Para ajudar essas pessoas é que resolvi fazer esta postagem, que será um resumo dos muitos acontecimentos que precederam os eventos narrados na série, explicando o contexto em que eles ocorreram. Também falarei sobre Os Sete Reinos de Westeros, sua cultura, seus costumes, suas organizações e sua religião.

I. Westeros


Mapa de Westeros

Para começar é preciso falar do óbvio. A série é ambientada em um mundo medieval fictício, e se passa em grande parte no continente de Westeros. Uma particularidade muito interessante deste mundo é que lá verão e inverno não são estações regulares. É possível, por exemplo, que o inverno dure muitos anos, como foi durante a chamada Longa Noite, quando os Caminhantes Brancos (whitewalkers ou Outros) surgiram pela primeira vez. A chegada do inverno sempre foi uma das grandes expectativas da série, porque com a chegada do frio e da neve também o exército de zumbis dos whitewalkers (apresentado logo no começo do primeiro episódio da série) irá se revelar.

O continente de Westeros é composto pelos Sete Reinos. São eles: O Reino do Norte, o Reino do Vale e da Montanha, o Reino das Ilhas e dos Rios, o Reino do Rochedo, o Reino da Campina, o Reino das Terras da Tempestade e o Reino de Dorne. Ao norte de tudo isso fica a Muralha, literalmente um grande muro de pedra que vai de costa a costa, e que foi construído pelos habitantes originais de Westeros, os Filhos da Floresta (ou Crianças da Floresta) para manter os whitewalkers afastados.

Inicialmente os Sete Reinos eram independentes, e cada um deles era governado por uma "Casa" (família de nobres). Por exemplo, o Rochedo era governado pelos Lannisters, enquando o Norte pertencia aos Starks. Cada uma das Casas de Westeros possui um escudo com um emblema, além de uma frase que é seu lema. Mais uma vez usando o exemplo dos Lannisters e Starks, o escudo dos primeiros é um leão dourado sobre um campo vermelho, e seu lema é "Ouça-me Rugir". Já o escudo dos Starks exibe um lobo cinzento correndo sobre um campo branco, e seu lema, eternizado pelo ator Sean Bean, que interpretou Ned Stark, é: "O Inverno Está Chegando".


II. A Guerra da Conquista


Aegon,  Conquistador, e suas Irmãs Visenya e Rhaenys

A independência dos Sete Reinos acabou quando Aegon Targaryen e suas irmãs chegaram a Westeros montados em dragões e empreenderam a chamada Guerra da Conquista. Os Targaryen eram uma família oriunda do continente oriental, chamado Essos, e integraram o império de Valíria. Quando ocorreu o cataclismo que destruiu Valíria e a dizimou a maior parte dos senhores de dragões (nobres capazes de montar e controlar dragões usando magia), apenas os Targaryen escaparam, indo morar na ilha chamada Pedra do Dragão, na costa leste de Westeros (que mais tarde viria a ser a casa de Stannis Baratheon e Dhaenerys Targaryen). Após algum tempo eles se voltaram para o oeste e iniciaram a campanha de anexação dos Sete Reinos.

Após diversas batalhas, pouco a pouco as Grandes Casas foram se rendendo. Três episódios deste conflito se tornaram icônicos. O primeiro foi a destruição do Castelo de Harrenhal, nas Terras Fluviais. Apesar de ser inexpugnável contra um ataque de homens, o castelo não resistiu às chamas de Balerion, o dragão de Aegon, e derreteu como uma vela. Foi para este castelo que Arya, Gendry e Torta-Quente foram levados cativos na segunda temporada. O segundo evento foi o chamado Campo de Fogo, no qual os três dragões Targaryen incineraram os exércitos da Campina, feito que Dhaenerys reproduziu em menor escala no quarto episódio da sétima temporada. E por último teve a rendição dos Starks, quando Torrhen Stark, último Rei do Norte, se ajoelhou e ficou conhecido como "O Rei que se ajoelhou". Agora percebemos o porquê da resistência de John Snow em se ajoelhar perante Dhaenerys: isso o tornaria o segundo Rei do Norte a se ajoelhar a um Targaryen, o que seria uma grande humilhação perante seus súditos.

Aegon Queimando Harrenhal

Ilustração mostrando o Campo de Fogo

O Rei que se Ajoelhou

Encerrado o conflito, Aegon reinou soberano ao lado das irmãs, mandou construir a Fortaleza Vermelha em Porto Real (local de seu primeiro desembarque em Westeros) e forjou o Trono de Ferro com as espadas dos inimigos que derrotara em batalha. O único reino que não foi conquistado foi o reino sulista de Dorne, que permaneceu independente por mais de um século, até que finalmente foi anexado pelos Targaryen por meio de casamento. Com isso finalmente os Targaryen tinham o controle absoluto de Westeros, o qual durou cerca de 300 anos. Durante este período os Targaryen enfrentaram duas rebeliões e uma guerra civil, e viram pouco a pouco seus dragões morrerem, até que só o que sobrou deles foram esqueletos uardados no porão da Fortaleza Vermelha e alguns ovos não chocados.

III. A Guerra do Usurpador


Rhaegar Targaryen Corteja Lyanna Stark

A derrocada dos Targaryen começou quando Rhaegar Targaryen, filho do Rei Aerys II e herdeiro do Trono de Ferro, se apaixonou por Lyanna Stark, irmã de Eddard (Ned) e Brandon Stark, apesar de ser casado com Elia Martell, de Dorne. Ele supostamente sequestrou Lyanna, que estaria prometida em casamento a Robert Baratheon, amigo de Ned (no entanto, tudo indica que a moça também amava o príncipe Targaryen). Furioso, Brandon foi a Porto Real desafiar Rhaegar, mas só conseguiu ser preso pelo Rei Aerys. O pai de Brandon foi convocado à capital para responder pelo erro do filho, e ao exigir um julgamento por combate, foi queimado vivo, pois Aerys, já demonstrando sinais de loucura, alegou que o campeão dos Targaryen era o fogo. Brandon assistiu ao próprio pai morrer queimado, com uma corda no pescoço e uma espada fora do alcance. Ele morreu enforcado e assim começou uma guerra civil nos Sete Reinos, liderada por Ned Stark e Robert Baratheon.

A batalha decidiva deste conflito foi a Batalha do Tridente, onde Robert derrotou Rhaegar às margens do grande rio, abrindo caminho para os exércitos rebeldes chegarem à capital. Em Porto Real, o rei Aerys estava cada vez mais louco. Ele mandou seu piromante esconder milhares de tonéis de fogovivo (a mesma substância altamente inflamável que Tyrion Lannister empregou na Batalha da Água Negra e que mais tarde Cercei utilizou para explodir o septo de Baelor) nos subterrâneos de Porto Real, para explodir a cidade caso perdesse. Tywin Lannister, que outrora fora a Mão do Rei (uma espécie de acessor do Rei) e que permanecera neutro no conflito, chegou com suas tropas a Porto Real alegando que viera para lutar pelos Targaryen, mas assim que entrou virou a casaca e iniciou o saque de Porto Real. A única coisa que evitou Aerys de queimar tudo foi o filho de Tywin, Jamie Lannister, que na época já era integrante da Guarda Real. Jamie assassinou o Rei Louco e ficou conhecido como Regicida, aquele que matou o rei que jurara proteger. Para se assegurar de que nenhum Targaryen sobrevivesse, Tywin ordenou que seu vassado, Gregor Clegane, assassinasse os filhos de Rhaegar e sua esposa, Elia Martell. Este fato explica o ódio dos dorneses pelos Lannisters, principalmente contra Gregor Clegane, a Montanha. No entanto, eles não conseguiram pôr as mãos nos outros filhos de Aerys, Viserys e Dhaenerys, os quais foram levados para o exílio em Essos.

A Batalha do Tridente

Após o fim da rebelião, Ned Stark, incomodado pelo rumo sangrento que o confronto tomou quando Robert se aliou aos Lannisters, retornou ao norte, mas antes foi até Dorne, no local onde ficava a Torre da Alegria, onde Lyanna estava sendo mantida. Ele e alguns companheiros enfrentaram os remanescentes da Guarda Real em uma incrível batalha de espadas, mas quando Ned finalmente alcançou a irmã ela já estava à beira da morte. Ela havia dado luz ao filho de Rhaegar, e fez Ned prometer que iria criar o menino. Sem escolha, o nortenho levou o filho consigo para Winterfell, e inventou a história de que ele era um bastardo, e o chamou de John Snow. É preciso salientar que o fato de John ser um Targaryen ainda não foi confirmado nos livros, cujos eventos após a batalha na Torre da Alegria são apenas subentendidos, mas na série este fato foi mostrado como certo.

O reinado de Robert transcorreu tranquilamente nos anos que se seguiram. O único percalço foi rebelião dos povo das Ilhas de Ferro, a qual foi suprimida com a ajuda de Ned. Derrotado, Balon Greyjoy teve que entregar seu filho, Theon Greyjoy, como refém a Ned. Por isso vemos o jovem vivendo em Winterfell no início da série, e é possível ver que ele não era tratado como um refém.

O reinado de Robert acabou quando seu Mão foi envenenado, e Ned Stark foi convidado para assumir a posição. É aí que a série começa, com a viagem dos Starks para o sul, quando todos os seus problemas começam. Depois disso ocorre a morte de Robert, a separação dos herdeiros Stark, e a Guerra dos Cinco Reis. Enquanto isso, do outro lado do Mar Estreito, os dragões voltam à vida e Dhaenerys inicia sua campanha para retomar seu reino de direito. O que ninguém sabe, no entanto, é que ao norte da Muralha os whitewalkers se agitam novamente, e se preparam para atacar os Sete Reinos quando o inverno chegar. Mas para saber como a história termina, só vendo a série!

IV.  Meistres, Religião e a Patrulha da Noite


Um Meistre

É comum também que cada família de nobres de Westeros tenha em seu castelo um meistre. Os meistres fazem parte de uma ordem de sábios, curandeiros e cientistas, cuja sede, a Cidadela, fica localizada na cidade da Vilavelha. O que caracteriza um meistre é a corrente que eles usam no pescoço, em que cada elo é feito de um metal diferente, que simboliza os vários tipos de conhecimento que o meistre domina.

A religião oficial de Westeros é a Fé dos Sete, que nasceu em Essos. Este culto substituiu a antiga religião do continente, na qual os Velhos Deuses eram reverenciados. O principal local de culto a estes deuses eram nos chamados Bosques Sagrados, onde haviam os represeiros, árvores de folhas rubras e tronco branco, onde eram desenhados rostos humanos. Poucos lugares em Westeros ainda possuem represeiros, Winterfell sendo um deles.

Os Sete Deuses

A Fé dos Sete cultua os Novos Deuses, um panteão de sete divindades que na verdade compõe um único deus (uma analogia à Santíssima Trindade Cristã). São eles: o Pai, a Mãe, o Guerreiro, a Donzela, o Ferreiro, a Velha e o Estranho. Por isso o principal símbolo desta religião é a estrela de sete pontas. Os locais de culto são chamados de septos, e seus sacerdotes são denominados septãos e septãs. A sede da religião fica em Porto Real, na catedral chamada Septo de Baelor.

Por último, há ainda uma última religião que surgiu recentemente em Westeros: o culto a R'hllor, o Senhor da Luz. Seus sacerdotes são extremamente fanáticos, pois veem o mundo de maneira dualista: ou a pessoa serve ao Senhor da Luz ou ao Senhor das Trevas. O fogo está sempre presente no culto de R'hllor, já que o fogo cria a luz. Várias são as habilidades dos servos de R'hllor: visões, transmutação, ressurreição de mortos, controle do fogo. Essa religião ainda prega o retorno de Azor Ahai, uma espécie de messias que empunhará a espada mágica chamada Luminífera, com a qual derrotará os Outros. Muito se especula sobre esta figura: alguns acham que seja John Snow, outros que será Dhaenerys, e alguns ainda especulam que será a união dos dois (esta é a minha opinião). Alguns seguidores famosos de R'hllor são Melisandre de Ashai e Thoros de Myr, e ambos já apareceram na série.

Melisandre

Como já foi mencionado aqui, o limite norte de Westeros é marcado pela Muralha. Construída com feitiços para impedir o avanço dos whitewalkers, a Muralha é protegida pelos membros da Patrulha da Noite, uma organização milenar composta por homens juramentados cuja única função é vigiar o norte. Com os anos a existência dos whitewalkers virou lenda, e muitos na Patrulha nem mesmo acreditam neles, pensando que a função da Muralha é manter os Sete Reinos protegidos dos selvagens que vivem nas Terras "Para Lá da Muralha", onde é sempre inverno. A Patrulha da Noite é constituída basicamente por criminosos condenados (ser sentenciado a viver na Muralha é a segunda pior pena do reino depois da morte) e também por alguns nobres indesejados por suas casas. Com o tempo seu número caiu drasticamente, e muitas das fortificações ao longo da Muralha foram desguarnecidas.


A Muralha

Não tenho dúvidas de que muita coisa ficou de fora deste resumo, mas minha intenção não era fazer uma enciclopédia de Game of Thrones, mas fornecer algumas informações para servir de base a quem está começando a assistir a série agora e não leu os livros. É claro que a leitura do material fonte é fortemente recomendada, mas não é obrigatória para entender a série. Caso eu tenha cometido algum equívoco, é só deixar nos comentários que eu conserto. Ah, e em breve farei algumas postagens sobre as principais Casas de Westeros! Até a próxima!

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

RESENHA | Batman: Silêncio


Batman: Silêncio (Hush) foi a principal saga do Cavaleiro das Trevas lançada no início dos anos 2000, entre os números 608 a 619 da revista Batman, da DC Comics. Esta maxissérie foi roteirizada por Jeph Loeb, que dispensa apresentações (Batman: O Longo Dia das Bruxas e Homem-Aranha Azul são apenas dois de seus trabalhos mais famosos), e desenhada por Jim Lee, aquele mesmo que nos anos 90 debandou da Marvel para fundar a Image Comics juntamente com outros artistas descontentes. A missão de Loeb não era nada fácil: levantar as vendas da revista do Morcegão após a ressaca que veio após a megassaga Terra de Ninguém nos anos 90, e uma sequência de histórias que variavam de medianas a ruins que vieram depois. O resultado foi uma Graphic Novel que figura entre as 10 melhores do Batman, de acordo com o site de entretenimento IGN.

O roteiro desta HQ tem a mesma estrutura de outros trabalhos do autor: trata-se basicamente de uma história de mistério, que, diga-se de passagem, é um dos talentos de Loeb. Há um novo vilão em Gotham City, chamado Silêncio, que está manipulando das sombras os principais vilões e aliados do Batman afim de atingi-lo, tanto física como psicologicamente. Um dos grandes problemas desta história, no entanto, é que na verdade não há mistério nenhum quanto à identidade de Silêncio, que desde as primeiras edições está na cara de quem se trata, e todas as tentativas de Loeb de dissuadir o leitor do contrário não passam de cortinas de fumaça e desculpas para inchar o roteiro desnecessariamente.

Silêncio

Apesar deste "pequeno" problema, ainda é possível dizer que Silêncio é uma boa história do Batman, e um dos motivos para afirmar isso é que nela vemos o Homem Morcego enfrentando quase toda sua Galeria de Vilões. Estão presentes na trama Coringa, Arlequina, Hera Venenosa, Charada, Ra's Al Ghul, Lady Shiva, Crocodilo, Espantalho, Cara de Barro e Duas Caras. Isso não é nenhuma surpresa, considerando que é uma marca registrada dos roteiros de Jeph Loeb o uso de tantos vilões em uma única trama. Ele já havia feito isso no passado também com o Batman e com o Homem Aranha, dois heróis com as mais formidáveis galerias de vilões dos quadrinhos. E um ponto positivo a ser destacado é que esses vilões não aparecem na trama à toa, cada um deles tem um papel muito bem definido pelo autor.

Além disso, Batman: Silêncio conta com um "bônus": o confronto entre o Cavaleiro das Trevas e o Homem de Aço. Qualquer autor que coloque os dois heróis para se enfrentar sempre sofrerá com a comparações com a luta escrita por Frank Miller em O Cavaleiro das Trevas, de modo que tem muita gente que torce o nariz para a luta que ocorre na edição #5 de Silêncio. De fato não é a melhor das lutas entre os dois heróis, mas até que gostei da conclusão da luta, especialmente a forma como o Batman encerra o combate (e não teve nada a ver com o nome das mães de ambos serem iguais!).

Batman vs Superman

Outra boa razão para ler Silêncio é que nela vemos novamente o Batman assumir o papel do Maior Detetive do Mundo. Ultimamente temos visto tanto o herói depender de tecnologia para realizar sua missão (da mesma forma como o Homem de Ferro da Marvel cada vez mais se transforma no Batman, o processo inverso também está acontecendo), que é um alívio quando finalmente o vemos empregar nada mais que suas habilidades mentais e táticas para solucionar um mistério. Neste contexto, ajuda muito o fato da história ser narrada pelo próprio Cruzado de Capa, através dos recordatórios, e eu já mencionei em outra resenha que Jeph Loeb tem um talento para usar este recurso dos quadrinhos como ninguém.

Através da narrativa de Bruce Wayne mergulhamos fundo em sua torturada psiquê, de modo que conseguimos enxergar o ser humano por baixo do capuz, um ser humano repleto de traumas e remorsos causados pelas várias tragédias pelas quais passou ao longo da carreira de vigilante. Estas tragédias o levaram a ser um homem solitário, pelo medo de que outras pessoas próximas a ele sofressem destinos parecidos com os de Barbara Gordon, Jason Todd e Sarah Essen (todos vítimas do Coringa, por sinal). Apesar disso, a Batfamília nunca parou de crescer, e Loeb defende a importância dos aliados do Morcego para que ele possa ser capaz de seguir em frente. Um destes aliados recebe atenção especial do autor sempre que ele passa pelas histórias do Batman: a Mulher Gato. Se em Vitória Sombria ela se afastou do Batman por perceber que ambos têm segredos demais para conseguirem ficar juntos, desta vez é o Homem Morcego quem baixa a guarda e revela à moça seu maior segredo, numa importante demonstração de confiança.

Batman e Mulher Gato 

Batman: Silêncio não é um grande clássico do Batman, o roteiro de Jeph Loeb é frágil e não sustenta a mesma qualidade de seus outros trabalhos, além de apresentar um vilão sem graça, porém rende uma boa diversão quando vemos o Batman lutar contra vários de seus principais inimigos, muito bem desenhados na arte incrível de Jim Lee e Scott Williams. Esta história deixou também um importante legado para a mitologia do Morcego: além de introduzir um novo vilão, ela aproximou ainda mais a Mulher Gato do herói (não por muito tempo), um importante vilão descobriu a identidade do Batman (não por muito tempo), o Duas Caras se regenerou (não por muito tempo) e também pavimentou o caminho para a volta de um importante personagem dos mortos.

Esta HQ foi lançada no Brasil em um encadernado de luxo pela Panini Comics (que infelizmente está esgotado há bastante tempo!) mas também pode ser encontrado na coleção de Graphic Novels DC da DC da Eaglemoss, em dois volumes. Boa leitura!

Capa do Encadernado Absolute Batman: Hush